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domingo, 26 de maio de 2013

A pervertida e o hipócrita

                                           
Rabí Nissán Ben Avraham
13/05/2013


Comentários sobre a Parashá Naso  

Povo De Profetas

Normalmente, lemos a parashá de Naso logo após Shavuot. Uma coincidência, é claro, mas estamos acostumados com o fato de haverem poucas coincidências no judaísmo.

Acabamos de comemorar a entrega da Torá, no qual todo o povo em conjunto, especialmente unidos entre si, testemunham algo muito especial. Não é mais um profeta que ouve as palavras de D’us em um evento particular: o povo todo tornou-se um Povo de Profetas, uma vez que todos nós ouvimos. É verdade que nem todos ouviram as mesmas coisas, pois ainda havia diferenças entre aqueles mais preparados e os menos preparados, mas ainda assim tornaram-se profetas.

Este povo deve iniciar agora o caminho à sua terra natal, até a Terra que o Criador jurou a seus pais lhes conceder. A estrada pode ser longa ou curta: eles mesmos decidirão, com o seu comportamento, suas reações, com sua preparação.

Como uma criança que sonha em ser um adulto e não compreende totalmente as responsabilidades que isto implica. O caminho pode ser curto se aplicado na adolescência não só para desenvolver o espírito rebelde, mas também para construir as ferramentas e técnicas que necessita para sua idade adulta. Se você perder um dos dois componentes, o espírito ou os instrumentos, ao chegar no momento crucial, estará “deficiente”, o caminho ficará mais longo e isso não é bom. Não só isso,
mas também a sua adolescência será incompleta e inquieta. Uma vez que ambas as partes são essenciais.

Nesta Parashá vemos alguns preparativos para este caminho, diferentes papéis entregue para as diferentes tribos,
e, ao final, os seus respectivos presidentes fazem uma oferta única para o Tabernáculo recém-construído. E nos capítulos 5 e 6 aparecem algumas instruções para abrir os olhos para a verdade profunda.

A pervertida

O capítulo 5 fala sobre a ‘pervertida’. Uma mulher casada que mantem relações proibidas com um dos seus vizinhos. A verdade é que não sabemos o que aconteceu, e isso por si só não significa nada em absoluto.

É claro que o comportamento dela (e do vizinho, é claro) não é correto, uma vez que a Torá proíbe o sexo entre uma mulher casada com qualquer um que não seja seu marido, e isso inclui, de acordo com a Torá Oral, a proibição de estarem ambos sozinhos em algum lugar (chamado de “yichud” יִיחוּד, em hebraico). E também desde o tempo do rei David, por causa da desgraça entre seus filhos Amnon e Tamar (ver Shmuel I, capítulo 13.) Está proibido de ficar a sós com uma mulher que não seja sua esposa, mãe ou filha.

Assim, pelo simples fato de estar a sós com seu vizinho, já transgrediu, mas no momento não é punida. Mas aqui entra em jogo o ciúme de seu marido, que não confia nela (ou no vizinho) e “é ciumento”, que em hebraico é o verbo ‘lekanné’ (לקנא) que os Sábios explicam como ‘aviso’ ou seja, o marido adverte sua esposa diante de duas testemunhas para que não faça novamente, e mesmo assim, a mulher continua a mesma. Aqui, o marido pode decidir se quer ir em frente ou não. Se decidir prosseguir, deve levá-la ao templo para realizar um processo que deve revelar o que exatamente aconteceu na casa de seu vizinho, pois se não houve contato sexual não há punição, apesar de ter violado a proibição de ‘estar sozinho’, que, naturalmente, é uma punição muito mais branda.

Como muitos dos mandamentos da Torá, especialmente aqueles que falam de castigo, nós é apresentado uma negativa, e nós devemos tentar entender qual é o positivo, o que é o ideal. A Torá está dizendo que a relação de confiança, intimidade e identidade entre o marido e a mulher deve ser tal que, mesmo se a mulher é deixada sozinha com o vizinho, não passe nenhuma desconfiança pela cabeça do marido, embora as aparências possam ser diferentes.

Os Sábios acrescentam que para salvar esse casamento, o Kohen (sacerdote) deve diluír em água o Nome inefável do Criador, um sacrilégio em outras circunstâncias, como prescrito pela Torá no verso 23. Como se D’us nos estivesse dizendo que Ele confia nela (e está disposto a ‘dar Sua vida’ = diluir Seu Nome para ela) como pode ela não confiar em seu próprio marido?

O “Santinho”

Em seguida, no cap. 6, segue o mandamento sobre o Nazireu. Este homem decidiu se privar por um tempo, não inferior a 30 dias e que pode durar o quanto decidir, de beber vinho, cortar os cabelos e se contaminar com os mortos. Este homem é chamado pela Torah de ‘pecador’, como no versículo 11 diz: “por ter pecado contra a alma”. Sim, sim, eu sei que as traduções dizem o contrário, mas assim que explica o Talmud no tratado de Ta’anit 11.

Um sábio chamado Shmuel, em um local citado, disse que aquele que jejua é chamado de ‘pecador’, como na opinião de R. El’azar o Alcaparrero, que pergunta: “contra qual alma pecou o Nazireu? A não ser (O acusa) pelo fato de não beber vinho”. Mais ainda aquele que jejua, que assim, renuncia a todos os alimentos.

Isto envolve mais dois versos, um em Provérbios (12:21) que diz que “nada mal irá acontecer ao justo”, e outro no Livro de Shemot (Êxodo 21:13) que diz “e D’us o colocou em suas mão “, sobre o assunto de homicídio por acidente, aonde parece que D’s quis que isso acontecesse, mostrando que, de verdade este o “mereceu” por sua imprudência e negligência. Da mesma forma aqui se trata de um Nazareo que foi impurificado por um homem morto que ‘D’us o colocou em suas mão’ (mesmo quando não foi morto ‘por sua culpa’) o que significa que não era um dos justos, mas sim, dos pecadores.

É por isso que estamos falando de um ‘hipócrita’, alguém que quer aparecer mais do que é realmente, e este na verdade não quer cumprir esta promessa e apenas o faz pelas aparências, ou por um motivo muito superficial.

“Naso”

A ‘pervertida’ e o ‘santinho’ são duas faces opostas de aparências. Com certeza podem existir em que o Nazireu fez seu voto com plena consciência de suas ações e, portanto, não haverá nenhum “acidente” que o impurifique, e este é um verdadeiro santo, como diz o versículo 06:05. Também pode haver casos, infelizmente, que a esposa trai o marido e mantém relações proibidas com um estranho, no caso em que ambos os pecadores serão punidos como aparece no Livro de Vaicrá (Levítico 20:10). Mas a Torá quer nos dar uma visão mais elevada (“coincidentemente” o nome do parsha ‘Naso’ significa ‘eleve’), em que devemos nos aprofundar além aparências.

Somente desta forma, estamos prontos para começar o caminho, já que com ele aparecerão situações enganosas, e se não formos capazes de reconhecer se as situações são verdadeiras ou falsas, com certeza o impacto será severo.

Tendo recebido a Torá em Shavuot, estamos prestes a nos aprofundar corretamente em tudo o que estamos prestes a encontrar na estrada, como dizem os primeiros versos do Livro de Mishlei (Provérbios 01:02 – 4), que a Torá é o que nos dá a sabedoria, a instrução e a sagacidade.

Ao adquirir todos estes instrumentos de sabedoria e aprender a usá-los corretamente, podemos agarrar a mochila e se aventurar na estrada!

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