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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

POR QUÊ PRATICAM OS JUDEUS A CIRCUNCISÃO?



Brit-Milá, a circuncisão da criança do sexo masculino uma semana após seu nascimento, é o mais antigo rito da religião judaica(8). Era praticado pelos patriarcas desde antes da existência das leis de Moisés e se acha tão indelevelmente gravado na tradição que nenhuma transferência é permitida, nem por causa do sábado nem pelo Dia da Expiação. A cerimônia só pode ser postergada quando a saúde da criança não a permite.
Alguns estudiosos explicam a exigência como uma medida sanitária e a moderna ciência médica deu apoio a essa teoria aconselhando a circuncisão como processo rotineiro na maioria das maternidades dos Estados Unidos.
O Judaísmo, porém, considera o rito da circuncisão um símbolo exterior que liga o menino à sua fé. Não é um sacramento que o introduz no Judaísmo; essa introdução é operada pelo nascimento. A circuncisão confirma a condição da criança e representa um emblema de lealdade à fé israelita.

Kasher - O que é?




O que é Kasher? O termo "kasher" significa genericamente "apropriado para o uso ou consumo". Mais especificamente, denota um alimento permitido pela lei judaica. Em contraste, designam-se por treifá os alimentos proibidos. Todas as leis alimentares judaicas (leis de kashrut) derivam de preceitos bíblicos, a maior parte dos quais são enumerados no capítulo 11 do Livro de Levítico.
Qual a razão fundamental das leis de kashrut?
Uma das interpretações mais deturpadas sobre as leis de kashrut é que elas foram instituídas como medida sanitária. Assim, por exemplo, a carne de porco teria sido proibida porque ela pode transmitir a triquinose. Isto não é verdade. A própria Torá explica, em linguagem simples e direta, a razão das leis alimentares: "Pois Eu sou o Senhor, vosso Deus. Vós vos santificareis (...) e não vos contaminareis (...) Sereis santos porque Eu sou santo" (Levitico 11:44-45). Os rabinos da era talmúdica frisavam que não há nada de errado, do ponto de vista biológico e sanitário, com os alimentos não-kasher. O judeu tem que se abster de comê-los, não porque façam mal à saúde, mas sim porque a lei divina é suprema, mesmo que esteja além dos limites da compreensão humana. A única razão para as leis de kashrut é o conceito ético de santidade. E a santidade pode e deve ser ressaltada mesmo nos aspectos mais mundanos do dia-a-dia. Nenhum ato é insignificante. Cada vez que preparamos ou comemos um alimento kasher, estamos aprendendo algo sobre a reverência pela vida. Quando ingerimos um pedaço de carne kasher, conscientizamo-nos que o animal é uma criatura de Deus e que a morte dessa criatura não pode ser tomada com leviandade, pois todo ser vivo traz dentro de si uma centelha divina. Isto é Kedushá, santidade: "Fazes da tua mesa um altar ao Senhor" (Talmud Brachot 55a).

Por que é proibido pela lei judaica comer carne e leite na mesma refeição?
A separação entre a carne e os alimentos derivados do leite é um preceito básico das leis de kashrut. Esta prescrição tem origem na injunção bíblica: "Não cozerás o cabrito no leite de sua mãe" (Êxodo 23:19). As comidas preparadas à base de leite, manteiga, queijo, etc. não podem ser servidas numa refeição em que haja carne. Após comer uma refeição de carne, é necessário aguardar um certo tempo antes de poder comer laticínios. O prazo varia de acordo com o costume local: os judeus da Europa Oriental esperam seis horas; os da Europa Ocidental esperam três horas; para os judeus holandeses bastam 72 minutos. Mais ainda, os pratos, talheres e panelas utilizados para preparar e servir carne não podem ser usados para leite e seus derivados, e vice-versa. Além disso, os utensílios devem ser lavados separadamente.

O que são alimentos parve?
São alimentos "neutros", tais como frutas, verduras, peixes e ovos, os quais podem ser servidos tanto com carne quanto com laticínios.

Por que os judeus compram carne em açougues especiais?
A Torá reconhece implicitamente que o ideal seria o vegetarianismo. No Jardim do Éden, que é a representação bíblica da Utopia, o homem devia alimentar-se exclusivamente de frutos e vegetais. Mais tarde, numa espécie de compromisso realista como ideal vegetariano, a Torá permitiu o consumo de carne, limitando porém o número de animais que poderiam ser consumidos. Ao mesmo tempo, o Judaísmo estabeleceu leis específicas para o abate do animal, visando evitar-Ihe qualquer sofrimento desnecessário. 0 abate e feito por um profissional especializado, o shochet, segundo um ritual prescrito, a fim de que a morte do animal seja a mais rápida e mais indolor possível. Mais ainda, a Torá proíbe o consumo do sangue dos animais e aves, "porque a alma de todo ser vivo está no sangue" (Levitico 17:11). Portanto, todo o sangue tem que ser extraído da carne antes do cozimento. Isto pode ser feito em casa, porém envolve um processo bastante trabalhoso e rigoroso: a carne tem que ser lavada, posta de molho por certo tempo, depois esfregada com sal grosso e finalmente enxaguada. Os açougues especializados já vendem a carne pronta para o cozimento.

Por que os judeus não comem carne de porco?
A proibição está claramente expressa no capítulo 11 do Levitico: "Entre todos os animais da terra, eis os que podereis comer: aqueles que tem os cascos fendidos e que ruminam (...) O porco, que tem os cascos fendidos, mas não rumina, é impuro."

Por que os judeus não comem camarões?
"Entre os animais que vivem na água, eis os que podereis comer: todos aqueles que tem barbatanas e escamas" (Levitico 11:9). Excluem-se portanto todos os crustáceos e moluscos.

O que qualifica um vinho como kasher?
Em primeiro lugar, todos os indivíduos que trabalham na produção do vinho, desde a extração do suco das uvas até o engarrafamento, devem ser judeus observantes. As uvas só podem ser colhidas da videira no quarto ano de vida da planta, assegurando assim a produtividade futura da mesma. No final da colheita, um por cento da safra de uvas tem que ser jogado fora, como uma recordação simbólica da dízima na época do Templo. Todo o processo de fabricação é supervisionado por um mashgiach, um inspetor religioso.

Por que se recita uma bênção após as refeições?
A lei tem origem no Livro de Deuteronômio: "Quando comeres e estiveres saciado, louvarás ao Senhor teu Deus." Expressamos nossa gratidão a Deus por tudo que Ele nos deu. Na verdade, a bênção após as refeições (Birkat Ha’Mazon) é composta de quatro partes. Primeiro, agradecemos a Deus por nos dar os meios básicos de subsistência física, mesmo nas circunstâncias mais adversas. Segundo, agradecemos a terra que Ele deu ao Povo de Israel para que possamos extrair do nosso próprio solo os alimentos que necessitamos – ressaltando assim o elemento de segurança e dignidade. Terceiro, agradecemos a Deus por nos alimentar não só fisicamente, mas também espiritualmente, e pedimos-lhe que reconstrua a Cidade Santa. E, finalmente, expressamos nossa gratidão pela Sua bondade que nos permite superar quaisquer calamidades.


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Fonte: "Os porquês do Judaísmo" Rabino Henry I. Sobel

QUAL A BASE PARA AS LEIS DIETÉTICAS A QUE OS JUDEUS OBEDECEM?



Um alimento proibido é treifá, “impróprio”. A designação kosher empregada em relação a um alimento indica ser este ritualmente correto; usa-se para qualificar não apenas alimentos como também qualquer objeto que preencha os requisitos rituais.
Originariamente, a palavra treifá significa que a carne era obtida causando-se sofrimento a um animal. Até a carne de animais que causam dor a outros é proibida; nenhum animal carnívoro é kosher. A carne proveniente da caçada esportiva constitui também tabu, pois o Judaísmo proíbe a matança pelo prazer do esporte.
Os judeus que hoje observam as leis dietéticas não encontram dificuldades nem se sentem prejudicados. Eles consideram as práticas kosher símbolo de sua herança distintiva, uma lição cotidiana de auto-disciplina e um lembrete constante de que o humano deve sentir piedade por todas as coisas vivas.

TSEDACÁ: Um conceito judaico e o Dizímo no Judaísmo




Desde a época do Templo Sagrado era visível para os judeus que levavam seus sacrifícios, que não importava qual fosse: um sacrifício representado por um animal de porte como um boi, uma ovelha, até uma certa quantidade de farinha (o que dependia da posse de cada um): todos eram aceitos e igualmente queridos por D’us. Assim, mesmo a mais ínfima doação de um pobre equivale para D’us como a maior doação de um rico.

Aprendemos de nosso patriarca Avraham o dom da generosidade. Assim como sua tenda possuia quatro aberturas que davam para as quatro direções do deserto afim de visualizar qualquer estrangeiro que passasse próximo ao seu caminho para convidá-lo a usufruir de sua hospitalidade, da mesma forma, devemos ser reconhecidos como seus legítimos descendentes: estender a mão para quem se encontra em nosso caminho e sempre procurar ajudar nosso semelhante.

Devemos sempre nos colocar em seu lugar, pois da mesma forma que nos dirigimos humildemente ao Criador em busca de bênçãos de saúde, alegrias materiais e espirituais, somos carentes: ocupamos a mesma posição daquele que se encontra diante de nós e pede para que estendamos nossa mão.

Devemos pensar que através das gerações poderemos também ter descendentes que um dia necessitarão talvez da ajuda de outros e portanto, nos sensibilizar que todos nós poderíamos estar em seu lugar. Devemos pensar que não nos encontramos em sua situação apenas pelo fato de que através de nossa ajuda possamos lhe fornecer mais conforto e dignidade, sendo justo com os bens que recebemos de D’us, para usá-lo da maneira que Ele espera que façamos.

Nossos bens é como um penhor que um dia deveremos devolver e restituir ao seu legítimo Dono.

Qual a origem da tsedacá

A Torá declara no seguinte versículo:

"Se houver um carente entre seus irmãos, numa de suas cidades, na terra que D'us deu a vocês, não endureçam seus corações nem fechem a mão a seu irmão carente. Vocês definitivamente devem abrir suas mãos e lhe emprestar o suficiente para o que lhe faltar (Devarim 15:7,8)".

A palavra hebraica Tsedacá é erroneamente traduzida como 'caridade', mas a palavra correta que provém de tsêdek é "justiça". Ela difere da caridade pois esta é definida como "um ato de generosidade ou de auxílio a um pobre". A Tsedacá não é meramente um ato de caridade: toda vez que alguém proporciona satisfação a outros - mesmo aos ricos - com dinheiro, comida ou palavras reconfortantes, ele cumpre esta mitsvá!

Este é um dos 613 preceitos dados por D’us no Monte Sinai ao povo judeu.

D’us permitiu que existissem pobres e ricos para que os seres humanos exercecem bondade e justiça uns com os outros transformando seu livre arbítrio em ações positivas.

Fazer Justiça

Quando as pessoas dão tsedacá, podem sentir que estão fazendo sacrifício por doar parte de seu próprio dinheiro a outrem. Podem mesmo aborrecer-se com o receptor da tsedacá por tirar vantagens. A Torá nos diz que esta atitude é errada, advertindo: "Não dê de má vontade." A razão está no versículo de Provérbios que diz: "Não retenha o bem daquele a quem é devido, quando está em seu poder fazê-lo." Aquilo que damos aos necessitados rigorosamente pertence a eles, e a pessoa com meios é, na verdade, apenas o depositário da propriedade dos pobres.

Em Provérbios também encontramos: "Não roube dos pobres." Mas o que os pobres têm que possamos roubar deles? Este versículo refere-se à retenção da tsedacá, porque quando as pessoas o fazem, guardam para si mesmas o que por direito pertence aos pobres. Seria uma espécie de roubo.

Aqueles que recebem tsedacá não devem se sentir humilhados, e quem dá tsedacá não deve se sentir magnânimo. É simplesmente um ato de justiça, de distribuir o quê, por direito, pertence a cada pessoa.

Quanto devemos dar para tsedacá?

A Torá nos ordena dar um décimo de nossa renda líquida. É meritório dar 20% (Shulchán Aruch Yore Dea 249:1). Existem muitos exemplos na Torá onde nossos antepassados deram seu maasser (dízimo), como com Avraham (Bereshit 14:20) e Yaácov (Bereshit 29:22), bem como a mitsvá de darmos 10% de nossas entradas aos Leviim (membros da tribo de Levi) (Bamidbár 18: 21,24) e outros 10% aos pobres da localidade (Devarim 26:12).

O Gaon de Vilna (Lituânia, 1720-1797) explicou que o critério para darmos Tsedacá está indicado no versículo da Torá que já mencionamos acima, quando uma pessoa fecha sua mão, seus dedos parecem ficar todos com a mesma altura. Quando ela os abre, entretanto, percebe que cada dedo tem uma altura diferente. O mesmo se dá com a Tsedacá: Cada individuo carente tem necessidades diferentes e nossa obrigação com cada um varia conforme sua necessidade. O versículo 7 diz: "Não feche sua mão", ou seja, não dê a mesma quantia a todos os que lhe pedirem". O versículo 8 continua: "Vocês definitivamente devem abrir suas mãos", significando: 'Perceba que cada pessoa é diferente da outra e contribua conforme o caso'."

Como separamos o maasser?

Muitas vezes é difícil para as pessoas se separarem de seu dinheiro. No primeiro parágrafo da oração 'Shemá Israel' está escrito: "Você deve amar seu D'us com todo seu coração, toda sua alma e todas suas posses".

Os Sábios do Talmud perguntam: "Por que está escrito 'Todas suas posses'?

A resposta:

Para algumas pessoas é mais difícil separar-se de seu dinheiro que se separar da própria vida. Um exagero? Nem tanto. Há uma menção sobre nossa conquista da liberdade após a escravidão no Egito, em Pêssach. Do que isto nos vale hoje em dia? Como este fato tão remoto pode ser aplicado como lição em nossos dias? Pelo fato de que muitos de nós hoje é ou se torna escravo de seus bens materiais, ambições e conquistas.

Devemos nos lembrar que não podemos permanecer escravos da matéria e sim buscar nosso aprimoramento espiritual. Doar e dividir, somar e multiplicar com outros faz parte deste processo, desta ascenção humana e de nossa meta de vida.

Principais pontos

A quantia a ser doada é um assunto bastante extenso que procuraremos reduzir a algumas idéias principais, sempre tendo em mente que em caso de dúvidas ou sobre a forma mais propícia e correta de proceder, um rabino bem versado na halachá, lei judaica, deverá ser consultado.
A subsistência de uma pessoa deve preceder a subsistência de seu próximo. Ela só deverá doar aquilo que excede seus ganhos após ter usado o necessário para sua casa e seu próprio sustento.

A pessoa no primeiro ano de seu prolabore deve destinar 1/10 do valor bruto para tsedacá. Nos demais anos (ou meses, como ela queira se programar) deverá dar 1/10 de seu lucro líquido, para cumprir o preceito. Se ela desejar aprimorar esta ação, o ideal será ela destinar 1/5 de seu ganho, se este valor estiver dentro de sua capacidade. Sobre o dízimo a Torá diz que devemos separar 10% no mínimo (há quem separe 20%) de seus ganhos para tsedacá, justiça (caridade). No entanto, a quantia de 20% não deverá ser pensada se isto significar que a pessoa terá que pedir ajuda a outras e depender de caridade, ela própria. Os dez por cento de tsedacá (caridade) deve ser contabilizado da renda bruta, descontando apenas os impostos.

Este conceito, de a pessoa ser um sócio de D’us, tem ramificações diretas em quais despesas podem ser deduzidas de nossa renda antes de separar Maaser. O dinheiro gasto por uma pessoa para possibilitar que ganhe seu dinheiro pode ser deduzido desta renda antes de separar maaser, mesmo se este foi usado sem sucesso para este fim.

Quando se trata de deduzir despesas, por exemplo, a pessoa pode deduzir quaisquer despesas ou perdas que ocorram em seu negócio, pois há uma responsabilidade mútua (entre os negócios e o maaser). Quaisquer despesas ou perdas que não forem com o objetivo de produzir mais renda são consideradas como a renda particular da pessoa, e o maaser deve ser separado destes fundos.

Qualquer perda financeira causada por roubo, perda ou equipamento quebrado também pode ser deduzida, desde que não seja devido à negligência por parte do sócio. Os empregados podem deduzir de sua renda quaisquer impostos e despesas com creche que sejam necessárias para permitir que eles tenham um emprego; custos do transporte para o trabalho, bem como quaisquer cursos que os ajudem a trabalhar adequadamente.

Portanto, é desnecessário dizer que as despesas que alguém faz para suas próprias necessidades não devem ser deduzidas da renda bruta. Quanto a mensalidades escolares, se alguém não pode pagar na íntegra (para o estudo de Torá), e teria de solicitar uma bolsa, ele poderia deduzir esta despesa adicional do maaser.

Um método fácil para aqueles que recebem seu salário já deduzido de impostos é tirar 10% do valor e depositá-lo para alguma instituição realmente merecedora (Aconselhe-se bem antes de entregar o dinheiro. Lembre-se: Tsedacá é um 'negócio' espiritual. Da mesma forma que você não investiria seu dinheiro numa empresa ''picareta" ou já falida, não dê Tsedacá antes de assegurar-se onde irão aplicar seu dinheiro). Isto torna sua contabilidade honesta e transparente, tornando mais fácil cumprir esta mitsvá. Aqueles que têm empresas (onde sua conta corrente e a da empresa se confundem) ou vivem de outros investimentos, devem fazer um balanço semestral e separar o dizimo do quanto lucrou.

A Tsedacá deve ser dada com prazer e com um semblante agradável. Se um pobre lhe pede dinheiro e você não esta apto a ajudá-lo agora, não levante a voz ou aja desagradavelmente. Solidarize-se com ele e, calmamente, expresse que gostaria de ajudá-lo, mas que neste instante não tem condições de fazê-lo. É louvável dar algo a uma pessoa pobre que pede um donativo, mesmo que seja uma pequena quantia.

A recompensa por praticar a Tsedacá é enorme!

Em Yom Kipur recitamos que "Três coisas revogam um Mau Decreto dos Céus -- Teshuvá (retornar ao caminho da Torá), Tefilá (orações) e Tsedacá (atos de justiça, de correção)". Acima de tudo, não dê com cara amarrada ou se arrependa de atos de Tsedacá (ou de qualquer outra Mitsvá) que tenha feito -- você perderá o mérito do ato! Mas não pratique o ato pela recompensa, pois conforme o ensinamento de nossos sábios "a verdadeira recompensa pelo cumprimento de uma mitsvá, é a própria mitsvá"

Tudo o que possuímos é um empréstimo de D'us. Na realidade, tanto a colheita, como a renda monetária de cada indivíduo é um presente Divino. A Torá não quer que nos esqueçamos disto. Por isso, instituiu que um décimo da colheita, ou da renda, fosse doada. Este é um lembrete de que na realidade nenhum bem material é nossa propriedade eterna, e temos de usar o que temos agora para o bem.

Existem muitas mitsvót englobadas dentro da mitsvá de Tsedacá, que por sua vez está englobada dentro do mandamento mais amplo de imitarmos as características do Todo-Poderoso: Da mesma forma que D'us cuida de nós, devemos nos esforçar para ajudar o restante da humanidade.

O Rambam

O Rambam, Maimônides (1135-1204), um dos grandes codificadores das Lei Judaica, estabeleceu uma hierarquia de 8 pontos para esta mitsvá:

1) Dar um presente, emprestar dinheiro, aceitar como sócio ou arrumar trabalho para alguém, antes que ele precise pedir caridade;

2) Fazer caridade com um pobre, onde ambos o doador e o destinatário não sabem a identidade um do outro;

3) O doador sabe quem é o destinatário, mas este não sabe quem é o doador;

4) O destinatário sabe quem é o doador, mas este não sabe para quem está doando;

5) O doador faz a caridade antes mesmo de lhe ser pedida;

6) O doador dá algo a um pobre depois de lhe ser pedido;

7) O doador dá menos do que deveria, mas o faz de uma maneira agradável e reconfortante;

8) O doador faz a caridade com avareza (ele sente incômodo neste ato, mas não o demonstra).
Consta no Shulchán Aruch (O Código deLeis Judaico) (Yore Dea 249:3) que se a pessoa visivelmente demonstra desprezo, ela perde o mérito desta mitsvá.

Na época do Templo Sagrado

Na época do Templo Sagrado todo o povo deveria dar dez por cento de sua colheita para a Tribo de Levi, constituída pelos leviim e cohanim. Vamos explicar o por quê desta lei. A tribo de Levi foi escolhida para ser a representante do povo de Israel perante D’us. Assim sendo, ao invés de possuir um pedaço de terra e nela trabalhar, a Tribo de Levi trabalhava no Templo Sagrado, oferecendo os sacrifícios e as demais tarefas, em nome do povo judeu. O povo retribuía a tribo de Levi com o dízimo, e assim eles eram sustentados. Assim, na época do Templo Sagrado o dízimo era dado por todo o povo para a tribo de Levi.

Estes não receberam uma porção de terra para o cultivo, como as outras tribos, pois moravam na região do Templo em Jerusalém ou em cidades designadas para eles. Estas tribos, que tanto dedicavam-se em prol de Israel, eram sustentadas pelo povo. Os dízimos mencionados a seguir eram consumidos pelos Cohanim e Leviim e suas famílias.

Na época do Templo Sagrado, as oferendas, que representavam o maasser, eram retiradas da seguinte maneira:

1. Bikurim- as primeiras frutas da safra eram trazidas ao Cohen.

2. Terumá Guedolá- aproximadamente dois por cento da colheita era dada ao cohen.

3. Masser Rishon- o 'primeiro dízimo'- dez por cento do restante da colheita era dado ao Levi, que por sua vez retirava dez por cento e dava ao cohen.

4. Maasser Sheni- segundo dízimo- no primeiro, segundo, quarto, quinto e sétimo ano do ciclo sabático, o agricultor retirava dez por cento do restante da colheita e levava a Jerusalém, onde era comido ou redimido.

5. Maasser Ani- Dízimo do pobre- no terceiro e sexto ano no ciclo sabático, ao invés de levar-se o maasser sheni ao Templo Sagrado, este era dado aos pobres.

Há muitas outras leis relativas ao maasser (dízimo) inclusive relativas ao plantio e colheita da terra em Israel que vigoram até hoje, beneficiando viúvas, órfãos e necessitados. Leia, estude e consulte sempre um rabino.

Dar tsedacá:
Um presente Divino

O dízimo pode ser aplicado de várias maneiras. Uma das formas mais nobres é dando dinheiro para a caridade. No judaísmo existe a mitsvá, o preceito, de doarmos 10 % de nossa renda ou até mais para instituições e pessoas necessitadas, a nosso próprio critério. Procuramos entidades idôneas que sabemos com certeza que o dinheiro será todo aplicado em obras assistenciais, ajuda a pobres e necessitados, viúvas, órfãos, deficientes, idosos, custeio de estudos a estudantes carentes, e assim por diante.

A prática do dízimo é benéfica para qualquer pessoa, independente de sua religião. Líderes de todas as religiões devem estimular seus seguidores a adotar práticas de caridade e compatilhar aquilo que tem com os menos afortunados.

Em primeiro lugar, devemos doar aos necessitados da própria família. Depois, aos carentes de nossa cidade, instituições de caridade, sinagogas e outras instituições.

Na realidade, tanto a colheita, como a renda monetária de cada indivíduo é um presente Divino. A Torá não quer que nos esqueçamos disto. Por isso, instituiu que um décimo da colheita, ou da renda, fosse doada. Este é um lembrete de que na realidade nenhum bem material é nossa propriedade eterna, e temos de usar o que temos agora para o bem, e nunca pensar "amanhã", ou "talvez…". Pois este "talvez" pode também significar que "Talvez não estejamos mais aqui amanhã".

Que possamos abrir nossos corações, mentes e mãos diariamente para praticar atos de justiça e nos tornarmos hoje dignos de termos sido os fiéis depositários da confiança e eterna bondade Divina.


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Livros sobre o tema e fontes consultadas:

"The Tzedakah Treasury ; An Anthology of Torah Teachings on the Mitzvah of Charity, To Instruct and Inspire" – "O Tesouro da Tsedacá - Uma Antologia dos Ensinamentos da Torá sobre a Mitsvá da Caridade, para Instruir e Inspirar", de autoria do Rabino Avrohom Chaim Feuer.

"Ahavat Chessed", Chafets Chaim

"Maasser Kessafim" e "Love Your Neighbor", Rabino Zelig Pliskin

EXISTE UM LIVRO COMPLETO DA LEI JUDAICA?



Nenhum livro incorpora todas as leis religiosas a que estão sujeitos os judeus.
O máximo que se alcançou na compilação de um código legal único, é representado pelo Shulhan Aruch, obra do século XVI de autoria de José Caro, repositório das leis básicas que hoje em dia guiam a maioria dos judeus ortodoxos no mundo ocidental. Mas embora estes aceitem a maior parte do Shulhan Aruch, ainda assim não o consideram o corpo integral da lei judaica, soma de todos os códigos aceitos, comentários, emendas e responsas (respostas dos rabinos aos problemas suscitados pela experiência prática) contidos numa biblioteca inteira de escritos judaicos.
Outra obra de padrão é o Código de Maimônides(foto), que registra, sistemática e logicamente, as opiniões contraditórias do Talmud.
Nem mesmo a Bíblia pode ser considerada norma imutável para a prática religiosa. As leis bíblicas relativas à poligamia, à cobrança de dízimos, à escravidão e a dezenas de outros assuntos, caducaram pela sua reinterpretação. Neste sentido, a lei rabínica e a Bíblia não são idênticas.

LEI E RITUAL RELIGIOSOS



Um dos traços mais característicos do Judaísmo consiste na sua grande variedade de ritos e cerimônias tradicionais que se relacionam com todas as circunstâncias da vida, desde o berço até o túmulo. A religião judaica está repleta de símbolos de toda espécie. E apesar de alguns poucos terem surgido em séculos recentes, a maioria tem origens muito antigas.
Quando os pais levam o filho à sinagoga para o Bar-Mitzvá, reina profunda comoção entre os fiéis, alegres por contemplarem um rapazinho passar para a idade adulta, enquanto os pais se orgulham por verem o filho assumir um papel na vida da sinagoga e compenetrar-se das primeiras responsabilidades da maioridade. O cerimonial do Bar Mitzvá sublima todas essas emoções.
Dizer que tais cerimônias são supérfluas é pretender que as palavras podem bastar-se sem música. Podem, é claro. Mas a música freqüentemente acrescenta-lhes uma nuança que marca a diferença entre fortuito e significativo, entre trivial e solene. Destarte, os ritos e os símbolos amiúde emprestam poesia à vida e tornam-na digna de ser vivida.
A palavra hebraica que significa santo, é “Kadosh” e é encontrada sob diversas formas através de todo o ritual judaico:
• Aos sábados e nas festas o judeu recita o Kidush, a Santificação do vinho. As palavras e a bênção em si não têm tanto sentido quanto a própria cerimônia. O pai toma nas mãos a taça de prata e declama as palavras em voz alta; a mãe e os filhos ouvem atentamente e respondem com um “Amém” conclusivo. É um ato simples e no entanto espelha toda a beleza e a serenidade que o sábado representa.
• O ritual da Devoção Silenciosa, recitada três vezes por dia, contém uma prece chamada Kedushá, na qual o oficiante repete as palavras do profeta: “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos, o mundo inteiro está cheio de sua glória”.
• E, ao fim da vida, há outra forma de santificação, o Kadish - no qual a pessoa que perdeu um ente querido afirma, apesar de toda a sua aflição, que a vida é sagrada e digna de ser vivida.

QUAL O PAPEL DA ESPOSA E DA MÃE NA FAMÍLIA E NA VIDA RELIGIOSA?



Toda véspera de sábado, a família praticante recita o último capítulo dos Provérbios, como tributo à esposa e à mãe, ideais do Judaísmo.
As virtudes exaltadas naqueles vinte e dois versos resumem os dotes de uma perfeita esposa: um ser humano reverente, eficiente, compreensivo, de um otimismo alegre, de coração aberto para socorrer os necessitados que lhe batem à porta e, acima de tudo, a pessoa sobre quem toda a família pode apoiar-se.
Desde o bíblico livro Provérbios até as modernas baladas populares judaicas, a esposa e a mãe têm sido descritas como a encarnação da terna dedicação, do altruísmo e da fidelidade à própria crença. A mãe impõe o tom espiritual à vida familiar, é a principal responsável pelo desenvolvimento do caráter dos filhos e mantém a família unida em face da adversidade.
A tradição judaica impõe poucas obrigações rituais à mulher na vida da sinagoga, mas atribui-lhe responsabilidade total em relação à atmosfera de piedade do lar e à preservação dos ideais judaicos. Ela reúne os filhos em torno de si na véspera do sábado para ouvirem-na pronunciar a bênção das velas, prepara a casa para cada festa e para os Grandes Dias Santos e cria um ambiente de jubilosa expectativa.
Nas velhas comunidades judaicas, a educação das crianças até a idade de seis anos cabia às mulheres, a fim de que, naquele período impressionável, pudessem ensinar a seus pequerruchos os valores eternos. Mais importante, porém, era o tradicional papel de conselheiro da família inteira, desempenhado pela esposa e pela mãe. Diz o Talmud: “Não importa a pequena estatura de tua mulher, inclina-te e pede-lhe conselho”.

QUAL A ATITUDE DOS JUDEUS EM RELAÇÃO AO DIVÓRCIO?



O divórcio sempre foi raro na comunidade judaica. Todavia, quando as divergências entre marido e mulher são tão irreconciliáveis que tornem intolerável a vida em comum, o Judaísmo permite o divórcio, sem reservas. Um lar cheio de amor, dizem-nos os nossos mestres, é um santuário; um lar sem amor é um sacrilégio.
Na tradição judaica se considera maior mal para os jovens serem criados num lar sem paz e respeito mútuo do que terem de encarar o divórcio dos pais. Quando duas pessoas não podem encontrar uma base comum para prosseguir em seu casamento, a despeito de reiterados e autênticos esforços, o Judaísmo sanciona e aprova-lhes o divórcio.

QUE SIGNIFICAM OS VÁRIOS SÍMBOLOS USADOS NUM MATRIMÔNIO JUDAICO?



Muitos dos costumes ligados à cerimônia nupcial provêm, em grande parte, mais da prática local do que da lei judaica. Em todos os países onde os judeus se estabeleceram, adotaram, além dos ritos exigidos pela sua religião, alguns dos costumes não-religiosos de seus vizinhos não-judeus. As regras protocolares, os convites, a ordem do cortejo decorrem mais de hábito que da lei.
Há, todavia, certos ritos e símbolos tradicionais ligados à maioria dos casamentos judaicos. Entre estes se incluem o dossel (Hupá) sob o qual se recebem os votos matrimoniais; o cálice de vinho onde tanto a noiva quanto o noivo bebem no princípio e no fim da cerimônia; a simples e desataviada faixa nupcial; e o documento do matrimônio religioso, chamado Quetubá(foto).
Cada um desses símbolos tradicionais é dotado de uma variedade de significados. O dossel empresta uma atmosfera de realeza à ocasião, pois a noiva e o noivo são considerados rei e rainha no seu dia de bodas. É também um símbolo do recolhimento a que o par recém-casado faz jus. Na cerimônia tradicional, permite-se à noiva e ao noivo deixarem os convidados por alguns momentos de intimidade não vigiada - um alívio bem recebido pelos dois que se acham tão assoberbados por dezenas de parentes e amigos.
O anel - que não precisa ser feito de ouro - é um símbolo de perfeição e eternidade, o círculo sem princípio nem fim. A questão que se faz da simplicidade do anel é típica da tradição judaica de igualdade, porquanto um anel sem enfeites diminui a diferença entre um par de noivos pobre e outro rico. O presente de um anel sem pedras é, porém, questão de costume, não de lei.
Partilharem a noiva e o noivo um único cálice do vinho, lembra o seu destino comum, pois daí em diante suas vidas são inseparáveis. Originariamente, o primeiro cálice, no início da cerimônia nupcial, representava os esponsais ou compromisso, e o segundo o próprio matrimônio. Hoje nos referimos freqüentemente ao primeiro como o cálice da alegria, que é ainda mais alegre por ser partilhado. O segundo é o cálice do sacrifício. A responsabilidade que cai sobre o homem e a mulher é aliviada quando duas pessoas, profundamente dedicadas uma à outra, a suportam em igual medida.
O ato de quebrar o cálice representa o ponto culminante do ofício tradicional e é interpretado de muitas maneiras. Alguns o consideram um vestígio de magia primitiva. Entre muitas tribos antigas, era hábito fazerem forte ruído em ocasiões jubilosas para afugentar os espíritos maus, invejosos da felicidade humana. Mas a tradição judaica sustenta que o cálice partido é uma lembrança da destruição do templo, um símbolo das mágoas de Israel. No meio de sua ventura pessoal, o par recém-casado é advertido das amarguras da vida e morigerado pela idéia de suas responsabilidades.

É VERDADE QUE NO JUDAÍSMO O LAR É MAIS IMPORTANTE QUE A SINAGOGA?



Sim, decididamente. Se todos os templos israelitas tivessem de fechar, a vida religiosa judaica permaneceria intacta, por que o seu centro está no lar.
Os judeus consideram o seu lar um santuário religioso. A família é a fonte principal do seu culto, e seu ritual tanto se destina ao lar quanto à sinagoga. A mãe, acendendo as velas de sábado - nas noites de sexta-feira; o pai, abençoando os filhos à mesa de sábado; as dúzias de ritos oportunos e significativos que acompanham a observância de todo dia santo judaico; o pergaminho que, fixo no portal, proclama o amor a Deus (Mezuzá) - tudo isto forma parte integrante do ritual e do cerimonial. A nossa religião é essencialmente uma religião familiar.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

O MATRIMÔNIO E A FAMÍLIA


O Judaísmo criou dezenas de ritos e cerimônias para a família, os quais uniram a fidelidade familiar aos deveres religiosos e assim reforçaram tanto o lar quanto a religião.
A religião judaica mede a dignidade do homem em relação ao círculo de sua família; pelo respeito e consideração pelos pais e avós; pela estima entre marido e mulher; pelo reconhecimento dos direitos da criança. No lar judeu não falta autoridade, embora em nada lembre um regime autoritário. Cada membro da família tem um papel importante, indispensável; em conjunto, todos asseguram a continuidade da família e da religião.
O traço mais característico do lar judeu reside, provavelmente, na ênfase que põe na unidade do convívio familiar. Sugere o Talmud que os judeus devem partilhar das alegrias e tristezas dos filhos.
Muitas famílias judias de hoje, a exemplo de alguns dos seus vizinhos não judeus, se apartaram dos hábitos tradicionais de família. Porém a maioria mantém os elevados padrões e os importantes valores da associação que sempre merecerão ser preservados.

POR QUÊ SE PREOCUPAM OS JUDEUS COM OS DIREITOS DE OUTROS GRUPOS MINORITÁRIOS?


Amiúde, os judeus têm sido vítimas de tirania e da opressão. Sua familiarização com dominadores cruéis e arbitrários remonta à época dos faraós. Um dos postulados primordiais do Judaísmo é lutar contra o tratamento injusto de qualquer ente humano, sejam quais forem a sua raça, religião ou estirpe.
Pessoas tratadas injustamente tornam-se freqüentemente amarguradas e retribuem os golpes maltratando outros, mais fracos, sempre que têm oportunidade. O povo judaico, no entanto, reagiu sempre ao próprio sofrimento com profunda sensibilidade pela dor alheia.
A simpatia pelas desgraças de seus semelhantes tornou-se parte do modo de viver dos judeus. Afabilidade para com os estranhos é tema constante na TANAH (Velho Testamento), com a freqüente admoestação: “Lembrai-vos de que éreis estrangeiros na terra do Egito”.

OS JUDEUS E A COMUNIDADE


A lei que manda procedermos corretamente para com o próximo é o ponto de partida de todos os ensinamentos judaicos. Não possui o Judaísmo uma complexa filosofia da justiça. Ao contrário de Platão e Aristóteles, os pensadores judeus pouco se esforçaram por desenvolver uma filosofia democrática sistematizada. De fato, não exite uma palavra hebraica para significar democracia, e para designar a noção esse mesmo termo é tomado de empréstimo aos gregos. Mas o credo social, segundo o qual os judeus têm vivido durante séculos, está de acordo com as mais elevadas tradições da democracia.
São básicos do Judaísmo os seguintes princípios também básicos da democracia:
• Deus não faz distinção entre os homens baseado em credos, cor ou condição social; todos os homens são iguais a Seus Olhos.
• Todo homem é o guarda de seu irmão - temos responsabilidade pelas faltas de nosso semelhante tanto quanto pelas suas necessidades.
• Sendo feitos à imagem de Deus, todos os homens dispõe de infinitas possibilidades para o bem; por conseguinte, o papel da sociedade é evocar o que de melhor existe em cada pessoa.
• A liberdade deve ser apreciada acima de todas as coisas; logo as primeiras palavras dos Dez Mandamentos descreveram Deus como o Grande Libertador.
O tema da liberdade e da igualdade perpassa constantemente através da história trimilenar do povo judeu. O travo freqüente da injustiça, enquanto ele vagueava de país em país, reforçou uma tradição já enraigada na sua fé.
O profeta Jeremias exortou seus seguidores a procurarem a prosperidade da terra em que habitavam. E os judeus sempre sentiram a obrigação de participar plenamente da vida da comunidade.

ACREDITAM AINDA OS JUDEUS NA VINDA DO MESSIAS?


A crença na vinda do Messias - um descendente da Casa de David que redimirá a humanidade e estabelecerá o Reino de Deus na terra - faz parte da tradição judaica desde os dias do profeta Isaías.
Conforme o descrevia a lenda, o Messias deveria ser um ente humano dotado de dons muito especiais: sólida capacidade de comando, grande sabedoria e profunda honestidade. Empregaria ele tais faculdades no estímulo da revolução social que ensejaria uma era de perfeita paz. Nunca, porém, houve qualquer alusão a um poder divino que seria gerado. Encarava-se o Messias como um grande chefe, um modelador de homens e da sociedade, mas, com tudo isso, um ser humano, e não um Deus.
Contudo, a maioria dos judeus reinterpretou a primitiva crença num Messias, não como um Redentor individual, mas como a própria humanidade que, coletivamente, pelos seus próprios atos, seria capaz de introduzir entre nós o Reino de Deus. Quando a humanidade alcançar um nível de verdadeira sapiência, bondade e justiça, então será esse o Dia do Messias.

ACREDITAM OS JUDEUS LITERALMENTE NOS MILAGRES DA BÍBLIA?


Nossos antepassados consideravam os milagres da Bíblia literalmente verdadeiros. Não faziam eles distinção entre o natural e o sobrenatural, já que o mesmo Deus todo-poderoso que determinou o curso da natureza poderia alterá-lo à vontade. A separação das águas do Mar Vermelho, o desmoronamento das muralhas de Jericó, parar o sol à ordem de Guideão, tudo isso era aceito como fatos históricos normais, em nada diversos da queda de Jerusalém ou da composição do Talmud.
Grandes eruditos, entre eles Maimônides e, muitos séculos antes, Filon, sugeriram que os autores da Bíblia tenham escrito deliberadamente numa linguagem de parábolas e hipérboles, sem esperar que estas fossem tomadas ao pé da letra. Seu propósito era transmitir grandes verdades morais numa forma que fosse compreendida e apreciada pelo povo em geral. A alegoria constituía excelente método didático, a ponto de a história bíblica permanecer intocável através de cem gerações.

QUEM REDIGIU A BÍBLIA E COMO FOI ELA COMPILADA?


Ninguém sabe quem escreveu ou redigiu a Bíblia. Os homens que preservaram a Sagrada Escritura e a deram ao mundo na sua forma hodierna foram escritores apaixonados pelo anonimato, a ponto de os letrados, ao discutirem sobre que livros incluir na terceira e última parte da Bíblia, terem-no adotado como um dos critérios. Exceto os profetas, nenhum dos autores era conhecido.
A redação final da Bíblia, tal como a compilação original da sua sabedoria, foi também fruto de um esforço conjunto. Séculos de estudo e discussão por parte dos maiores eruditos consumiram-se nessa tarefa.
A Bíblia judaica se compõe de três partes distintas, redigidas em diferentes épocas.
A Torá ou Pentateuco, isto é, os Cinco Livros de Moisés, foram compilados, pela primeira vez, nos anos subseqüentes a 621 A.C.
Os dos Profetas foram organizados em sua forma final por volta do ano 200 A.C.
Esta seção contém os livros históricos: Josué, os Juízes, Samuel e os Reis; os Profetas Maiores: Isaías, Jeremias e Ezequiel; e os doze profetas menores, inclusive Oséias, Amós, Jonas e Miquéias.
Os chamados Escritos Sagrados, que constituem a terceira parte da Bíblia, foram os que mais dificuldades ofereceram a um acordo dos doutos e mais tempo exigiram para serem compilados. Houve muitas controvérsias a respeito dos livros que deveriam ser mantidos e dos que deveriam ser eliminados. Não havia dúvidas quanto aos Salmos, Provérbios, Jó e outros livros menores. Numerosos rabis indagaram, porém, se o “Cântico dos Cânticos”, cuja poesia obviamente retratava um episódio de amor profano, caberia na Sagrada Escritura. Outros argumentaram a favor da inclusão dos chamados livros “Apócrifos”, finalmente omitidos da Bíblia Judaica, mas posteriormente introduzidos no texto católico romano.
Quando a última parte da Bíblia ficou afinal concluída, continha - e contém até hoje - os Salmos, Provérbios e Jó; as cinco Meguilot ou rolos (o Cântico dos Cânticos, Ruth, Lamentações, Eclesiastes e Ester); Daniel, Ezra, Nehemias e os dois livros de Crônicas. Nada do que se escreveu depois da época de Ezra (séc. V A.C.) foi considerado parte da Bíblia.
Tanto quanto se sabe, foi por volta de 90 D.C. que pela primeira vez os vinte e quatro livros da Bíblia judaica foram mencionados como um todo.
Os escritos sagrados da cristandade foram incorporados em obras que os cristãos denominaram de Novo Testamento, em oposição aos 24 livros a que chamaram de Antigo Testamento.
Quem leu ambas as versões, judaica e católica, notará que a ordem dos livros é um tanto diferente no Antigo Testamento cristão e na Bíblia judaica. Todavia, exceto os livros adicionais incluídos nas edições católicas, os dois textos são substancialmente idênticos.

ACREDITAM OS JUDEUS NO CÉU E NO INFERNO?




Houve tempo em que a ideia do céu e do inferno teve acolhida generalizada na teologia judaica. Embora não contenha qualquer referência direta a um futuro mundo concreto ou físico, o Antigo Testamento faz algumas vagas e poéticas alusões a uma vida posterior. E durante o período da dominação persa sobre Israel, diversos ensinamentos do Zoroastro, entre os quais a noção de um céu e um inferno futuros, tornaram-se populares entre os judeus.
Hoje, estes acreditam na imortalidade da alma - uma imortalidade cuja natureza só é conhecida de Deus - mas não aceitam um conceito literal do céu e do inferno.
Os judeus sempre se preocuparam mais com este mundo do que com o outro e sempre concentraram seus esforços religiosos na criação de um mundo ideal para nele viverem.

QUAL É O CONCEITO JUDAICO DO PECADO?


O conceito judaico de pecado se ampliou e transformou-se através dos séculos. Para os antigos hebreus, o pecado consistia na violação de um tabu, uma ofensa contra Deus, pela qual deveria ser oferecido um sacrifício expiatório. Gradativamente, com o correr dos anos, este conceito se dilatou. O pecado passou a significar a nossa inabilidade em nos conformarmos com nossas plenas potencialidades, o nosso malôgro em cumprir nossos deveres e arcar com as nossas responsabilidades como judeus e como povo de Deus.
Estas “grandes expectativas” provenientes da criação do homem à imagem de Deus, são acentuadas em todos os ensinamentos judaicos. Narra certa lenda do Talmud que ao entregar a Torá a Moisés, Deus chamou para testemunhar não apenas os judeus do tempo de Moisés, porém os judeus de todas as gerações futuras. Cada judeu, portanto, deve considerar-se como tendo aceito pessoalmente a Lei e os elevados ideais dados a seus pais, como depositários, nas faldas do Sinai. Deixar de pautar a vida por estes altos padrões, constitui pecado.
A tradição judaica distingue entre pecados contra a humanidade e pecados contra Deus. Os primeiros - transgressões de um homem contra seu próximo - somente podem ser reparados com a obtenção do perdão daquele que foi agravado. Orações não podem expiar tais pecados; Deus não intervém para redimir as dívidas do homem para com o seu semelhante.
Os pecados contra Deus se cometem por quem se alheia à sua fé. Estes podem ser expiados pela verdadeira penitência, que em hebraico se exprime pela palavra “retorno” “Teshuvá” - em hebraico, quer dizer, um regresso a Deus e uma reconciliação com ELE. Isto só pode ser conseguido por meio de uma análise honesta de nossas almas, um reconhecimento sincero de nossas imperfeições e uma firme resolução de preencher o vácuo entre o credo e o ato.

CONSIDERAM-SE OS JUDEUS “O POVO ELEITO”?


As palavras “povo eleito” deram origem a muitas ilações capciosas. A maioria delas provém da falta de familiaridade com a tradição judaica e de uma incompreensão daquilo que o Judaísmo considera seu papel específico e sua responsabilidade.
Não se consideram os judeus dotados de quaisquer características, talentos ou capacidades peculiares, nem tampouco que gozem de algum privilégio especial aos olhos de Deus. A TANAH(Bíblia Judaica)refere-se à escolha de Israel por Deus, não em termos de preferência divina, mas antes por divina intimação. Israel foi escolhido para trilhar uma vida de grandes exigências espirituais; para honrar e perpetuar as Leis de Deus e transmitir a Sua herança.
Relata a tradição o episódio do Monte Sinai, em que a Torá foi completada. Deus oferecera o rôlo sagrado a diversas outras nações antes de oferecê-lo a Israel. Julgando que os Dez Mandamentos lhes impunham muitas limitações, os moabitas recusaram a Torá. Tampouco os amonitas quiseram aceitar restrições à sua liberdade pessoal. Israel, porém, aceitou a Lei sem reservas.
Os judeus de nossos dias, portanto, consideram-se um povo que escolhe, antes que um povo escolhido, e aceita “o peso da Torá”, e a responsabilidade de transmitir sua moral básica e suas verdades espirituais.
Todavia, os judeus responsáveis rejeitam qualquer degeneração desse senso de fatalidade num arrogante e vazio jacobinismo ou numa confusão de responsabilidade com privilégio.

ACREDITAM OS JUDEUS QUE O JUDAÍSMO É A ÚNICA RELIGIÃO VERDADEIRA?



Os judeus consideram a sua religião a única para os judeus; jamais condenam, porém, o devoto de qualquer outra fé. Diz-nos o Talmud: “Os justos de todas as nações merecem a imortalidade”.
Acreditam eles em certos conceitos éticos essenciais: decôro, benevolência, justiça e integridade. A estes consideram verdades eternas, mas sem se arrogarem o monopólio dessas verdades, pois reconhecem que toda grande fé religiosa as descobriu. Era o que Rabi Meir tinha em vista quando, há cerca de dezoito séculos, afirmou “Gentio que segue a Torá não é inferior ao nosso Sumo Sacerdote”.

OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DO JUDAÍSMO


A maneira mais autêntica de adorar Deus é a imitação das virtudes divinas: como Deus é misericordioso, assim também devemos ser compassivos; como Deus é justo, assim devemos tratar com justiça ao próximo; como Deus é tardio em se irritar, assim também devemos ser tolerantes em nossos julgamentos.
O Talmud fala em três princípios básicos da vida: a Torá, ou instrução; o culto ou o serviço de Deus, e a caridade ou a prática de Boas Ações.
Para o judeu piedoso, a filantropia não conhece fronteiras raciais ou religiosas. De acordo com os rabis: “Exige-se de nós que alimentemos os pobres dos gentios tanto como nossos irmãos(*) judeus...” Ninguém está isento da prática da caridade - diz o Talmud -, “até quem vive de uma pensão deve dar ao pobre”!
No primeiro século da nossa era, o Rabi Iohanan perguntou a cinco de seus mais preclaros discípulos o que consideravam o alvo supremo da vida. Cada qual ofereceu a sua fórmula predileta. Depois de ouvir a todos, disse Iohanan: “A resposta do rabi Elazar ainda é a melhor - um bom coração”.
Outro grupo de estudiosos procurou um único verso da Bíblia que distilasse a essência da fé judaica. E encontraram-no nas palavras do profeta Miquéias: “Que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a beneficência e andes humildemente com o teu Deus”.

O QUE É UM JUDEU?


É muito difícil encontrar uma simples definição do que é um judeu.
Judeu é todo aquele que aceita a fé judaica. Esta é a definição religiosa.
Judeu é aquele que, não tendo afiliação religiosa formal, considera os ensinamentos do Judaísmo - sua ética, seus costumes, sua literatura - como propriedade sua. Esta é a definição cultural.
Judeu é aquele que se considera judeu ou que assim é considerado pela sua comunidade. Esta é a definição prática.
Como parte de inegável importância para qualquer definição válida, deve-se dizer também o que o judeu não é. Os judeus não são raça. A história revela que através de casamentos e conversões o seu número sofreu acréscimos sem conta. Há judeus morenos, louros, altos, baixos, de olhos azuis, verdes, castanhos e pretos. E apesar da maioria dos judeus serem de raça branca, há os judeus negros, os falashas, na Etiópia, os judeus chineses de Kai-Fung-Fu e um grupo de judeus índios no México, cuja origem, até hoje, ainda é um mistério para os antropólogos e arqueólogos.
Para se compreender o Judaísmo, a busca do absoluto no ritual e no dogma deve ser abandonada, para dar lugar a um exame de ampla filosofia à qual se subordina a nossa fé. As nossas regras de culto são muito menos severas do que as de conduta. Nossa crença no que se refere à Bíblia, aos milagres, à vida eterna - é secundária em relação à nossa fé nas potencialidades humanas e nas nossas responsabilidades para com o próximo. As modificações introduzidas, no decorrer dos anos, no ritual e nos costumes, são de importância menor comparadas com os valores eternos que fortaleceram a nossa fé através de incontáveis gerações e mantiveram o Judaísmo vivo, em face de todas as adversidades.
O Judaísmo sempre foi uma fé viva, crescendo e modificando-se constantemente como todas as coisas vivas. Somos um povo cujas raízes foram replantadas com demasia freqüência, cujas ligações com as mais diferentes culturas foram muito intensas para que o pensamento e tradições religiosas permanecessem imutáveis. Sucessivamente, os judeus fizeram parte das civilizações, dos assírios e babilônios, dos persas, dos gregos e romanos e, por fim, do mundo cristão. As paredes do gueto foram mais uma exceção do que propriamente uma regra no curso da história. Tais experiências, inevitavelmente, trouxeram consigo certas modificações e reinterpretações.
De qualquer maneira, a religião judaica conseguiu se desenvolver sem submeter-se ao dogmático ou ao profético. A fé do judeu exige que ele jejue no Dia do Perdão. Mas enquanto jejua, aprende a lição dos profetas que condenam o jejum que não é feito com probidade e benevolência. Ele vem à sinagoga para rezar e, durante o culto, lê as palavras de Isaías dizendo que a oração é inútil a não ser que ela seja o reflexo de uma vida de justiça e de misericórdia. Assim, o Judaísmo continua sendo uma fé flexível, que vê os valores através de símbolos e ao mesmo tempo se precavê contra cerimônias superficiais.
Acreditamos em Deus, um Deus pessoal cujos caminhos ultrapassam a nossa compreensão, mas cuja realidade ressalta a diferença que existe entre um mundo com finalidades e outro sem propósitos.
Acreditamos que o homem seja feito à imagem de Deus, que o papel do homem no universo é único e que, apesar da falha de sermos mortais, somos dotados de infinitas potencialidades para tudo o que é bom e grandioso.
São essas as nossas crenças religiosas básicas. Os outros pontos abordados acima podem ser considerados, como diria Hilel: “mero comentário”.