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quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O Kidush da noite de Shabat

“Aquele que recita o ‘Vayechulu’ (o Kidush) na noite do Shabat é considerado como se ele se tornasse parceiro de D’us na criação do mundo” (Talmud, Tratado Shabat, 119b).
Edição 72 - Julho de 2011

A recitação do Kidush na noite de Shabat, cujo cumprimento cabe igualmente a homens e mulheres, é um dos mandamentos judaicos mais significativos e amplamente observados.
A guarda do Shabat – o único ritual judaico que é um dos Dez Mandamentos – é um dos pilares do judaísmo. É um mandamento tanto positivo quanto negativo. Isso significa que seu cumprimento se baseia em atos de cometimento e omissão. A Torá nos ordena “lembrar” (zachor) e “guardar” (shamor) o Shabat. “Guardamos” o Shabat abstendo-nos de realizar quaisquer dos 39 trabalhos (melachot) e suas derivações (toladot) proscritos nesse dia sagrado, e o “lembramos”  recitando o Kidush nas noites de sexta-feira.
Como o Shabat abrange duas diretrizes Divinas, não se trata de uma mitzvá do tipo “tudo ou nada”. Portanto, mesmo aqueles que não o “guardam”, devem cumprir o mandamento que ordena: “Lembra-te do dia do Shabatpara santificá-lo” (Êxodo, 20:8), por meio da recitação do Kidush antes do jantar da noite de sexta-feira.
A recitação dessa bênção serve, portanto, para cumprir o mandamento positivo de “lembrar” do Shabat pelo fato de que o texto do Kidush enfatiza a santidade do dia – a distinção entre os seis dias mundanos da semana e o sétimo, sagrado. Há um princípio geral no judaísmo de que, na medida do possível, um evento espiritual deve ser expresso através de um ato físico. Daí o Kidush ser ligado à ingestão do vinho; não basta apenas recitar palavras sagradas.
De modo geral, ao recitar o Kidush, o fazemos sobre uma taça de vinho necessariamente casher e, de preferência, tinto. No entanto, se entre os participantes alguém não pode ingerir bebida alcoólica, esta pessoa deverá tomar suco de uva casher. A bênção é idêntica à do vinho. No caso de não haver vinho ou suco de uva casher, pode-se fazer o Kidush sobre o pão e, em vez de recitar a bênção Bore Peri HaGuefen, “que cria o fruto da videira”, diz-se, Hamotzi Lechem min Ha’aretz, “que tira o pão da terra”. Quando se usa pão em lugar de vinho, é preciso fazer a lavagem ritual das mãos (Netilat Yadaim) antes de fazer o Kidush, para que se possa comer o pão imediatamente após o término de sua recitação.
O Shabat é consagrado por meio de um ato físico porque o propósito dos mandamentos da Torá é santificar o mundo, infundindo o material no espiritual. Isso explica por que se usa vinho, em particular, no Kidush: por um lado, serve como um componente do prazer humano; por outro, por ter sido a única bebida, à exceção de água (em Sucot), que serviu de libação no altar do sacrifício no Tabernáculo e no Templo Sagrado de Jerusalém. O vinho, portanto, serve tanto como propósito físico quanto espiritual. Como o Talmud diz: “O vinho alegra D’us e o homem”.
Mas como o vinho, especialmente o tinto, é um símbolo de severidade e julgamento (a cor vermelha remete ao sangue) – a Cabalá nos recomenda adicionar ao vinho do Kidush uma pequena quantidade de água, que simboliza amor e graça. Primeiro o vinho é colocado quase que até a borda do copo 
de Kidush; a seguir, acrescenta-se um pouquinho de água. Esta cria uma “mistura” adequada de harmonia entre a benevolência e a severidade – ou seja, as duas primeiras Sefirot emocionais: Chessed Guevurá.
Durante a recitação do Kidush da noite de sexta-feira, todos os presentes ficam de pé, porque o desempenho de tal mandamento Divino equivale a prestar testemunho de que D’us criou o mundo e, segundo a Lei Judaica, as testemunhas precisam ficar de pé ao depor. Ao dizer o Kidush, a pessoa atesta que D’us criou os Céus e a Terra. Essa é a base e o fundamento para a santificação do Shabat e para a sua observância. Diz a Torá: “(O Shabat) é um sinal entre Mim e os Filhos de Israel para sempre, que em seis dias o Eterno fez os céus e a terra, e no sétimo dia Ele cessou e descansou” (Êxodo, 31:17).
Enquanto recita o Kidush, a pessoa deve ter em mente que está cumprindo esse mandamento Divino tanto para ele como para todos os presentes. Já os ouvintes, estes devem ter em mente que o fato de ouvir o Kidush equivale a se eles próprios o estivessem recitando. Portanto, devem ficar em silêncio, e responder “Amén”. Quem interromper o Kidush por qualquer motivo, por exemplo, até mesmo para dizer “Baruch Hu U’Baruch Shemó” (Abençoado é Ele e abençoado é Seu Nome) invalida o cumprimento desse mandamento Divino para si próprio.
Uma vez recitado o Kidush, aquele que fez essa bênção bebe uma quantidade significativa do vinho, participando assim da comunhão do físico com o espiritual, que é a essência dos rituais judaicos. É costume que todos os presentes provem do vinho do Kidush. Contudo, quem participa da cerimônia e ouve a bênção sem interrompê-la, cumpriu com a obrigação mesmo sem ter bebido do vinho.
O texto do Kidush
No texto do Kidush, há duas partes distintas, separadas uma da outra pela bênção do vinho. Em algumas versões do Kidush, há exatamente 35 palavras em cada uma das partes, perfazendo um total de 70, que é o número místico da noite de Shabat. Esse número também representa um múltiplo de dois números significativos: sete, o numeral do sétimo dia, e dez, que alude às Dez Sefirot – três intelectuais e sete emocionais.
A primeira parte do Kidush, que é retirada da Torá, sendo, portanto, de autoria Divina, fala do Shabat do ponto de vista transcendental do Criador, como sendo o objetivo e conclusão perfeita da Criação. 

A segunda parte foi cunhada pelos Sábios. A primeira parte descreve o aspecto Divino do dia sagrado, ao passo que a segunda expressa sua santidade sob a óptica do Povo Judeu, expressando todos os elementos que constituem a natureza do Shabat e o relacionamento especial entre esse dia e o Povo de Israel.
A segunda parte do Kidush se inicia com a abertura para as bênçãos sobre qualquer mandamento Divino: “Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificaste com Teus mandamentos”. Tais palavras expressam que os mandamentos Divinos são uma forma de adquirir santidade e, ainda mais, que os próprios mandamentos são um ato de santidade. Por meio dos mesmos, somos santificados perante o Eterno, pois enquanto estamos engajados em um Mandamento Divino, estamos unidos a D’us. Enquanto estamos cumprindo Sua Vontade, nós seres humanos finitos, unimo-nos com o Ser Infinito.
O Êxodo do Egito é também mencionado na segunda parte do Kidush, porque o Shabat – dia de descanso da labuta – é associado com a libertação de nosso povo da escravidão no Egito. Israel, povo de escravos, adquiriu a redenção e a liberdade, tornando-se uma nação de homens livres, capaz de cessar o trabalho e descansar em determinados períodos. Em sentido mais profundo, o Êxodo do Egito simboliza a libertação de certas experiências e atribulações e prisões terrenas, e a ascensão ao serviço Divino. A libertação do Egito foi uma metamorfose para o Povo Judeu: passamos de escravos de um rei perverso a servos de um Ser Infinitamente benevolente. Todas essas idéias estão incorporadas no Shabat, quando descansamos de todos os labores do mundo físico e transcendemos o mundano, adentrando um período de tempo sagrado e santificado por D’us.
Assim sendo, para podermos melhor apreciar o significado do Kidush, preparamos, com base nos ensinamentos de nossos Sábios, uma breve transliteração, tradução e comentários, frase por frase, explicando o texto do Kidush, a partir do Sidur do rito sefaradita.
(Vayehi Erev Vayehi Boker), Yom Hashishi – (E seja noite e seja manhã), O sexto dia
As duas palavras, Yom Hashishi, que concluem a contagem dos seis primeiros dias da Criação, não se referem ao testemunho da santidade do Shabat. Contudo, fazem parte do texto do Kidush porque as primeiras letras das palavras Yom Hashishi Vayechulu HaShamayim formam o Nome de Quatro Letras de D’us. Mas, como as palavras Yom Hashishi (o sexto dia) não têm significado lógico se estiverem fora de contexto, os Sábios incorporaram as palavras que as precedem “Vayehi Erev Vayehi Boker”, que são recitadas em voz baixa antes da oração do Kidushpropriamente dito.
Vayechulu Hashamayim VeHaaretz VeChol Tzevaam – Os Céus e a Terra e todas as suas multidões estavam completos
Isso significa que o Universo inteiro, o mundo superior e inferior, e todos os tipos de criaturas de todas as espécies físicas e espirituais que os habitam foram criados por D’us durante os primeiros seis dias da Criação.
A recitação desse verso é um ato de testemunho: atestamos a criação dos Céus e da Terra por D’us – a base e fundamento da santidade do Shabat e de sua observância. Em outra parte da Torá está escrito que “Entre Mim e os Filhos de Israel, é um sinal para sempre, que em seis dias o Eterno fez os céus e a terra, e no sétimo dia Ele cessou e descansou” (Êxodo, 31:17).
A maioria de nossos Sábios entendeu o significado exato da palavra Vayechulu sendo diferente de uma palavra semelhante, Vayechal, encontrada no próximo verso, significando que D’us “terminou” ou “completou”. Aqui o termo significa que tudo chegara a um estado de término, da perfeição de sua natureza essencial – ou seja, um todo em sua inteireza perfeita.
Vayechal Elo-him Bayom HaShevii Melachto Asher Assá– E D’us terminou no sétimo dia Seu trabalho que Ele havia feito
Não tinha o Eterno terminado Seu trabalho no sétimo dia, mas no final do sexto? Alguns Sábios explicam que a Criação ocorreu em sete dias, pois não é como se D’us tivesse criado o mundo em seis dias e depois o deixou por sua conta no sétimo. Pelo contrário: no sétimo dia, D’us criou o conceito de descanso. O Shabat e seu repouso são, em sua essência, a culminação da criação do mundo. São o cúmulo da perfeição que faltava ao mundo e que foi alcançado no sétimo dia da Criação.
É importante explicar o propósito do repouso na Criação. Oferecemos aqui a seguinte analogia. Um fazendeiro empenha-se muito para plantar as safras; ele lavra e semeia a terra e faz tudo o que é preciso. Mas há um período de espera antes de iniciar a colheita. O solo parece ser passivo nesse processo, mas é isso o que permite que o plantio ocorra. 

O mesmo pode ser dito sobre a Criação, de modo geral. Sem o Shabat, o mundo não seria capaz de colher os frutos do labor Divino e humano. Trabalhamos seis dias na semana e depois descansamos no sétimo, para que nosso trabalho possa germinar e render seus benéficos resultados.
Vayishbot Bayom HaShevii Mikol Melachto Asher Assá – E Ele descansou no Sétimo Dia de todo o Seu trabalho que Ele havia feito
“Terminou” (Vayechal) e “descansou” (Vayishbot) não são palavras de idêntico significado. Terminar um trabalho tem a conotação de cessar ou abster-se de uma atividade; descansar implícita um estado de lazer. Há, de fato, dois mandamentos separados na Torá acerca do Shabat: o mandamento negativo de abster-se de trabalhar e o mandamento positivo de descansar. Este último não significa, contudo, que a pessoa deva dormir o dia todo. Significa que deve abster-se de trabalhos e atividades mundanas e se dedicar a atividades prazerosas (contanto que sejam permitidas no Shabat) – por exemplo, fazer fartas refeições – e a afazeres espirituais, tais como a oração e o estudo da Torá.
Vayevarech Elo-him et Yom HaShevii Vaycadesh Oto – E D’us abençoou o sétimo dia e o santificou
É importante enfatizar que a bênção e a santidade não são fenômenos visíveis nem tangíveis. O curso contínuo do mundo físico não cessa seu progresso durante o Shabat. A transição do mundano para o sagrado precisa, pois, ocorrer dentro de cada um de nós. A singularidade do sétimo dia reside na possibilidade de transformação do Shabat em uma fonte de bênção a partir da qual todos os demais dias da semana sejam abençoados. Mas isso depende de nosso comportamento no dia sagrado.
“E o santificou”: A santidade desse dia está no fato de ter sido santificado como um dia sagrado desde o momento da Criação, santidade esta que foi revelada a Israel no Monte Sinai como um mandamento específico. Ademais, a santidade do Shabat não depende do fato dos homens o guardarem; ela existe independentemente da participação humana. O Talmud e a Cabalá ensinam que quando se inicia o Shabat, o judeu recebe uma alma adicional, que permanece dentro de seu corpo enquanto dura o dia sagrado. Mas cabe a cada um de nós usar esta dádiva Celestial, que nos permite sentir e partilhar da santidade do dia.
Ki Vo Shavat Mikol Melachto – Pois nesse dia Ele descansou de toda a Sua obra
O descanso e o repouso foram criados no Shabat como o propósito máximo do trabalho. Portanto, o Shabat é o que permite que o judeu colha os frutos de seu empenho semanal. Se não existisse o Shabat, nosso trabalho material e espiritual seria em vão.
É importante notar que o conceito de descanso Divino é uma metáfora. A Torá atribui qualidades humanas a D’us para que nós, seres humanos finitos, possamos entender um pouco sobre o Criador Infinito, que, por definição, está além de nossa compreensão. Descanso Divino não significa que D’us parou de trabalhar porque estava cansado. Tais limitações não se aplicam ao Infinito. D’us “descansar” significa que a Energia Divina (a Sefirá) que predominava no sétimo dia da Criação era Malchut, que é uma Sefirá passiva, diferentemente das demais seis (Chessed, Guevurá, Tiferet, Netzach, Hod e Yessod). Ver o artigo “As sete Sefirot da emoção” – (Morashá no. 69)
Asher Bara Elo-him Laassot – Que D’us criou para fazer
A palavra Laassot (fazer) parece fora de contexto. Há Sábios que traduziram essas palavras da seguinte forma: “Que D’us criou para o homem fazer”. Ou seja, a atividade criativa e a capacidade de alterar o estado do mundo nos foram dadas por D’us. Os seres humanos se tornaram, por assim dizer, parceiros de D’us na Criação. Fomos criados para trabalhar para aperfeiçoar e remodelar o mundo. Além disso, somos ordenados a fazê-lo da mesma forma que D’us o fez ao criar, Ele mesmo, o Universo: devemos trabalhar durante seis dias e repousar no sétimo.
Savri Maranan – Atenção, senhores!
É costume que os ouvintes respondam a esse chamado dizendo, “LeChaim” – “À vida!”. Isso é permitido, pois não é considerado uma interrupção.
Baruch Ata Ado-nai, Elo-henu Melech HaOlam, Bore Peri Haguefen– Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que crias o fruto da videira.
Como vimos acima, essa bênção é recitada quando o Kidush é feito sobre o vinho casher (ou suco de uva casher). Quando não há vinho nem suco de uva casher, usa-se pão. Caso não haja nem pão pode-se usar outra bebida alcoólica casher. (Nesse caso, recita-se a bênção do ShehacolBaruch Ata… Shehacol Nihiá Bidvaro). Os ouvintes respondem “Amén” após ouvir essa bênção.
Baruch Ata Ado-nai, Elo-henu Melech HaOlam, Asher Kideshanu Bemitzvotav VeRatzah Banu – Abençoado és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificaste com Teus mandamentos e que a nós desejaste
Essa benção indica o deleite e a satisfação Divina conosco, como consta no verso, “Pois o Eterno se alegra com Seu povo” (Salmos, 149:4). Ao compartilhar conosco Sua Vontade, que é a Torá e seus mandamentos, D’us nos santificou. Ensina o Talmud que um emissário é como seu mestre, pois age em nome do mestre e incorpora sua vontade. Da mesma forma, quando executamos a Vontade Divina, estamos servindo de seus emissários neste mundo e, assim, nos unimos a Ele.
VeShabat Kodsho Beahava Uveratzon Hinchilanu– E nos deu, em amor e boa vontade, Seu sagrado Shabat como um legado:
Os conceitos “amor” e “boa vontade” são mencionados em todas as orações e bênçãos de Shabat. Expressam a idéia de que a dádiva do Shabat para o Povo de Israel é uma expressão do amor Divino. O Talmud ensina que “O Santo, abençoado é Ele, disse a Moshé: ‘Eu possuo uma dádiva preciosa na Minha casa entesourada, chamada de Shabat, e Eu desejo dá-la a Israel’” (Shabat, 10b).
Como um legado: a dádiva do Shabat não foi um legado apenas para uma geração, e sim, para todas as gerações do Povo Judeu. Como está escrito: “E os Filhos de Israel guardarão o Shabat, para fazer do Shabat uma aliança perpétua por todas as suas gerações” (Êxodo, 31:16).
Zikaron Lemaase Bereshit:Em lembrança da obra da Criação
Está determinado nos Dez Mandamentos, “Lembra-te do dia do Shabat para santificá-lo. Em seis dias o Eterno fez os Céus e a Terra… e descansou no sétimo dia” (Êxodo, 20:8, 11). O Shabat é o testemunho de que D’us criou o Universo e de que Ele é a única Fonte de tudo o que existe. Todos os universos, físicos e espirituais, e tudo o que neles há, desde a mais ínfima partícula de pó até a mais elevada das criaturas celestiais, foram criados e são sustentadas por Ele, que transcende e preenche toda a Criação.
Techila Lemikraei Kodesh – A primeira das convocações de santidade (festas sagradas)
Shabat é a primeira de todas as festas, tanto por ter sido santificado desde a Criação e também porque é a primeira a ser mencionada na Torá (Levítico, 23:2-3).
As festas judaicas, como PessachSucot e Shavuot, são denominadas pela Torá de “convocações de santidade” porque antes de o calendário judaico ser criado, o início de um novo mês dependia da proclamação do Beit Din, o tribunal judaico. Portanto, o dia exato no qual ocorreria uma festa sagrada dependia da proclamação, por esse tribunal, do início de um novo mês, isto é, de Rosh Chodesh. Já o Shabat, este é independente de qualquer proclamação do Beit Din; ele é sempre o sétimo dia da semana, pois foi o Criador quem o proclamou.
A bem dizer, o Shabat nem deve ser referido como “convocação de santidade”. Mas o terceiro livro da Torá, o Levítico, que relaciona as festas sagradas, inicia-se com uma menção ao Shabat. A razão para tal é que o sétimo dia é a matriz de todos os dias sagrados judaicos.
De fato, apesar de muitos não o saberem, qualquer Shabat é o dia mais sagrado do ano judaico, até mesmo mais do que Yom Kipur. Trabalhar no Shabat constitui uma transgressão muito mais séria do que fazê-lo em Kipur. Ademais, com algumas exceções, as leis referentes às datas sagradas – ou seja, o que podemos ou não fazer – derivam das leis referentes ao Shabat. Pois como está escrito: “A santidade do Shabat é superior a todas as santidades, e sua bênção é superior a todas as bênçãos” (Aruch HaShulchanOrach Chaim, 242:1).
Zecher Litsiat Mitsrayim – A recordação do Êxodo do Egito
Shabat se relaciona com a Criação do mundo e com o Êxodo do Egito. Esses dois conceitos são interligados: o Shabat nos faz lembrar que D’us criou o Universo todo e o Êxodo nos ensina que Ele está envolvido em Seu mundo mediante o controle da natureza, manipulando-a segundo Sua Vontade, enquanto se relaciona com todas as Suas criaturas por meio de Sua Divina Providência. O Shabat nos ensina que D’us, como Criador de tudo, é Infinito e transcende o Universo. Mas o sétimo dia também nos transmite que D’us, como Força responsável pelo Êxodo, que realizou grandes milagres para nossos antepassados e os libertou da escravidão egípcia, é iminente, profundamente envolvido na vida de cada um de nós.
Quando recitamos o Kidush, devemos ter em mente o seguinte. Apesar de sermos criaturas finitas, estamos aqui, de pé, testemunhando que foi o D’us de Israel quem criou tudo o que existe, e como Ele é iminente, presente em todos os lugares e a todo tempo, Ele está atento a nosso testemunho de que Ele é nosso D’us. O Talmud nos ensina que aquele que recita o Kidush se torna parceiro de D’us na Criação, pois serve de testemunha de que tudo o que existe, nos reinos do físico e do espiritual, tem uma única Origem, que é o Criador Infinito, Mestre e Senhor de Tudo.
Assim está dito nos Dez Mandamentos, como aparece em Deuteronômio, 5:15: “E lembrarás que servo foste na Terra do Egito, e que o Eterno, teu D’us, te tirou de lá, com mão forte e com braço estendido; portanto o Eterno, teu D’us, te ordenou para guardar o dia do Shabat”. Os comentaristas bíblicos explicaram que, como Criador do mundo, D’us é também seu Senhor e Mestre. O Êxodo do Egito é um sinal de Sua Providência e domínio sobre o mundo, e prova de Sua criação desse mundo.
VeShabat Kodshecha BeAhavá Uveratzon Hinchaltanu– E Teu sagrado Shabat, com amor e boa vontade Tu nos deste como um legado
Shabat não é um fardo, mas uma dádiva de amor e favorecimento Divino. Não fora pelo Shabat, muitos de nós trabalharíamos sete dias por semana, tornando-nos escravos de nós mesmos. D’us nos força a parar no sétimo dia sagrado e a nos retirarmos das tarefas mundanas, em nosso próprio benefício. O Shabat é, pois, um dia de reposição de nossas forças físicas e espirituais. É um momento em que devemos esquecer-nos de nossas preocupações e desfrutar a vida e suas bênçãos.
Shabat, esse legado que os Filhos de Israel receberam, tem preservado não apenas o judaísmo, mas também os judeus enquanto nação. É voz corrente, muito apropriadamente, que “o Shabat guarda os judeus mais do que os judeus guardam o Shabat”. Por razões óbvias, aquele que guarda o Shabat tem muito menos chance de se assimilar e de perder sua identidade como judeu. Não basta lembrar que somos judeus apenas em Rosh Hashaná e Yom Kipur, ou seja, judeus de três dias. No mínimo uma vez por semana o Shabat nos faz lembrar quem realmente somos.
Baruch Ata Ado-nai Mekadesh HaShabat – Bendito és Tu, Eterno, que santificas o Shabat
Essa bênção conclui o Kidush. Diferentemente da santidade das festas judaicas, a santidade do Shabat não depende do Povo de Israel; pelo contrário, é D’us, Ele Próprio, quem o santifica. Essa bênção é escrita no tempo presente, porque o Shabat foi santificado não apenas na época da Criação, mas a manifestação e influência contínua dessa santidade aparecem e emanam como novas a cada semana.

Após beber o vinho do Kidush, procedemos à lavagem ritual das mãos (Netilat Yadayim). Depois recitamos a bênção sobre o pão e jantamos. Após a refeição, recitamos o Bircat Hamazon, em que agradecemos ao Criador por Sua beneficência e generosidade e pedimos por uma época em que todos os dias sejam como o Shabat – uma era de paz, abundância, deleite e descanso para toda a humanidade.

Bibliografia:
The Schottenstein Edition - Siddur Sefard for the Sabbath and Festivals - Artscroll Mesorah
Rabi Steinsaltz, Adin,The Miracle of the Seventh Day, 
Ed. Jossey-Bass
Mindel, Nissan, My Prayer - Volume II: Shabbat Prayers, Ed. Merkos L'Inyonei Chinuch

O Lechá Dodi do Rabi Shlomo Alkabetz


O Lechá Dodi é o ponto alto do Cabalat Shabat – o serviço de orações das noites de sexta-feira, quando recebemos o Shabat. De todas as orações desse dia, o Lechá Dodi é a mais famosa e bela, e nenhuma outra é recitada com tanto júbilo e fervor.
Edição 68 - Junho de 2010 Revista Morashá

Escrita pelo poeta e cabalista sefardita do século 16, o Rabi Shlomo HaLevi Alkabetz, o Lechá Dodi foi adotado por todas as comunidades judaicas, sefarditas e asquenazitas.
Pouco se sabe sobre Rabi Alkabetz, que nasceu por volta de 1505, até que ele se estabeleceu na cidade de Salônica, onde se tornou extremamente respeitado por seus profundos conhecimentos da Torá, Talmud e das obras místicas. Em meados de 1535, após vivenciar com Rabi Yossef Caro, autor do Shulchan Aruch, uma experiência mística, deixou essa cidade e fixou residência em Safed. A cidade era um grande centro de estudos místicos, onde viviam e ensinavam grandes sábios sefaraditas, profundos conhecedores do Talmud e da Cabalá, como Rabi Moshe Cordovero, Rabi Chaim Vital e o próprio Arizal, Rabi Itzahak Luria, o maior cabalista na história judaica.
Em Safed, às sextas-feiras, ao pôr-do-­sol, Rabi Alkabetz ia com outros cabalistas aos campos, para dar as boas-vindas ao Shabat. Foi nessa atmosfe­ra que Rabi Alkabetz escreveu a po­ema Lechá Dodi. Apesar de outras saudações poéticas ao Shabat terem sido compostas por outros Sábios, foi o Lechá Dodi que recebeu o endosso de Rabi Yitzhak Luria, discípulo do cabalista Rabi Cordovero, aluno e cunhado de Rabi Alkabetz.
Tendo sido composto por um homem que foi um grande erudito em Torá, cabalista e poeta, o Lechá Dodi tem muitas camadas de significado. Baseia-se em fontes encontradas nos Cinco Livros da Torá, nos Livros dos Profetas e nas Escrituras Sagradas, no Talmud e Midrash, e faz referências a alguns dos assuntos mais profundos e complexos da Cabalá. Mas como a interpretação cabalista de seus versos está além do escopo deste ensaio, elucidaremos o significado básico das estrofes do Lechá Dodi, para que cada um de nós possa ter condições de melhor apreciar suas palavras quando as recitamos durante as orações da noite de Shabat.
O tema geral do Lechá Dodi é que o Shabat é uma “Noiva” ou uma “Rainha”, a quem saímos para receber e dar as boas vindas. Estas metáforas se baseiam na descrição do Talmud sobre a alegre saudação dos Sábios ao Shabat (Shabat, 119a): Rabi Chanina costumava envolver-se em suas vestes especiais do Shabat e dizer: ‘Vamos, saiamos para saudar a Rainha do Shabat’ ”. Rabi Yannai se aparamentava com suas vestimentas especiais e dizia: “Entre, noiva! Entre, noiva!”. O Lechá Dodi divide-se em estrofes. Algumas congregações têm o costume de repetir a primeira estrofe (Lechá Dodi Likrat Kala, Penei Shabat Necabelá) após recitar cada uma das demais estrofes. Abaixo traduzimos e elucidamos cada estrofe individualmente.
Lechá Dodi
“Vem, meu Amado, saudar a Noiva, vem, vamos dar as boas vindas à Presença do Shabat.”
Lechá Dodi se inicia convidando nosso “Amado”, o Próprio D’us, a se unir a nós no Shabat. A “Noiva” é o próprio Shabat. O Midrash (Bereshit Rabá 11) ensina que quando D’us criou o tempo, dividindo-o em sete dias, Ele prometeu ao recém-criado Shabat que “Israel será seu novo par” para sempre. Conseqüentemente, a cada semana, o Povo Judeu saúda a aproximação do Shabat como se fosse um noivo que aguarda sua noiva, enquanto esta se aproxima do pálio nupcial.
Outro comentarista (Anat Yosef) interpreta a “Noiva” como sendo uma alusão à Shechiná, a Presença explícita de D’us, que foi retirada do homem devido aos pecados de Israel. Por isso, pedimos ao Eterno que se una a nós ao saudar Sua própria Presença; estamos orando a Ele pelo fim do exílio, para que a Shechiná volte novamente a brilhar sobre o Povo Judeu e sobre o mundo todo. Isto somente ocorrerá com a chegada do Mashiach e a reconstrução do Templo Sagrado de Jerusalém.
Shamor
“Guarda e Recorda, ditos em uma expressão única e simultânea, nos fez ouvir D’us, Uno e Único. O Eterno é Um e Seu Nome é Único – por seu bom nome, por sua beleza, por seu louvor.”
O Talmud (Shevuot 20b) ensina que quando D’us deu os Dez Mandamentos, Ele milagrosamente habilitou Israel a ouvir simultaneamente os dois aspectos complementares do mandamento do Shabat: Shamor (Deuteronômio, 5:12) – para guardar o Shabat – é a ordem de evitar sua profanação, ao passo que Zachor (Êxodo, 20:8) – para recordar o Shabat – é a ordem de realizar os mandamentos positivos associados a esse dia, tais como recitar o Kidush sobre um copo de vinho e dedicar o dia a atividades que são permitidas, espiritualmente elevadas e fisicamente alegres, tais como a oração, o estudo da Torá, o descanso e o prazer das refeições do Shabat. Apesar de a Torá escrever esses dois mandamentos, Shamor e Zachor, de forma separada, D’us os combinou no Sinai para que o Povo Judeu entendesse que os mesmos são inseparáveis.
Um dos comentários sobre o Sefer Yetzirá (o Livro da Formação), o livro mais antigo sobre a Cabalá, afirma que a capacidade de D’us de fundir os opostos é indicada pela descrição d’Ele como sendo “Um e Único”. O Infinito Criador, que não é limitado de forma alguma, realiza o feito impossível de pronunciar as palavras “Recorda” e “Guarda” de forma simultânea.
Licrat
“Para recebê-lo, vamos à frente do Shabat. Pois que ele é a origem de toda a bênção. Desde o início, desde tempos antigos, o Shabat foi glorificado. Foi o último a ser criado, mas é o primeiro em Seu pensamento.”
O Zohar nos ensina que todas as bênçãos e sucessos que desfrutamos durante a semana advêm em decorrência da santidade do Shabat. Este livro fundamental da Cabalá cita o Sábio, Rabi Yitzhak, que, referindo-se ao verso, “E D’us abençoou o sétimo dia” (Gênese, 2:3), declarou que “todas as bênçãos dos mundos superiores e inferiores derivam do sétimo dia”. De modo semelhante, o Talmud (Shabat, 118a) ensina que aquele que traz alegria ao Shabat é recompensado com um legado ilimitado de bênçãos e verá cumprirem-se todos os desejos de seu coração.
A idéia de “o último a ser criado, mas o primeiro em Seu pensamento” significa que apesar de que o Shabat foi o ato final da Criação – o sétimo dia, no qual D’us nada criou, mas apenas o conceito do descanso – o Shabat foi o propósito primordial de D’us ao criar este Mundo. De fato, quando se prevê um grande projeto, primeiro fazem-se os preparativos antes de começar a implementar o trabalho. No desígnio de D’us era da maior importância que houvesse um dia de santidade em meio à Criação, mas, antes disso, o universo inteiro tinha que ser criado. O Midrash explica este conceito através da seguinte analogia: um rei preparou um belo pálio e o decorou ricamente. O que faltava para completá-lo? A noiva, é claro. Evidentemente, enquanto o rei preparava e decorava o pálio, ele tinha em mente a noiva com quem estava prestes a se casar. O mesmo pode ser dito sobre o Rei do Universo, que criou todo o mundo para a Rainha Shabat (Bereshit 10:9).
Micdash
“Santuário Real, cidade de realeza, levanta-te e emerge de teus escombros. Muito tempo habitaste no vale das lágrimas. D’us misericordioso terá piedade de ti.”
Na Cabalá, o sétimo dia da semana, o Shabat, é associado com a sétima Sefirá emocional, Malchut (Realeza). O Shabat, o dia da Realeza, está interligado com Jerusalém, a cidade da Realeza, com o Rei David (que a estabeleceu como a capital eterna do Povo Judeu) e com seu descendente, o Rei Mashiach, que irá reinar a partir de Jerusalém. Ensinam-nos que quando o Mashiach vier, Jerusalém e o Templo Sagrado serão reconstruídos, e que na Era Messiânica, todo dia será Shabat – um dia de paz e júbilo – para todos os seres humanos.
Jerusalém personifica o Povo Judeu. Lechá Dodi chama esta cidade sagrada de “Santuário do Rei” – um título emprestado do profeta Amós. Jerusalém é chamada de cidade real porque nela a presença de D’us, o Rei supremo, era particularmente sentida, especialmente no Templo Sagrado, que ficava no centro espiritual de Jerusalém. De fato, a Shechiná residia no Templo Sagrado, como reza o verso: “E me farão um Santuário para que Eu possa habitar no meio deles” (Êxodo, 25:8). Jerusalém era, também, o lar do maior rei terreno de todos os tempos – o Rei David – e será também a residência real do descendente de David, o Rei Mashiach, que liderará o mundo a caminho de uma era de utopia.
Hitnaari
“Sacode o pó e levanta-te! Adorna-te com teus belos vestidos, meu povo, pela mão do filho de Ishai, de Betlechem. Aproxima-te de minha alma, para redimi-la!”
Esta estrofe faz referência a um verso em Isaías (52:2), no qual o profeta se dirige a Jerusalém como se fosse uma mulher se esvaindo no pó da humilhação. Ele a intima a se erguer, vestir-se com suas mais belas vestes, e retomar seus modos nobres. Iyun Tefilá comenta: “Jerusalém – suas mais belas vestes são Israel. Deixa vir a redenção para que eles novamente possam habitar-te em santidade”.
A referência ao filho de Ishai representa o próprio Mashiach, que irá descender do Rei David, filho de Ishai. É o Mashiach que irá redimir a alma do Povo Judeu e de cada judeu individualmente. O apelo, “Aproxima-te de minha alma, para redimi-la”, pode ser interpretado de duas maneiras: como uma exortação a D’us para redimir nossas almas com a Redenção Messiânica, ou como uma declaração que é como se essa era já tivesse chegado com o advento do Shabat, que é comparado à Redenção. A estrofe seria traduzida como: Você chegou perto de minha alma: Você a libertou.
Hitoreri
“Desperta, desperta! Pois tua luz chegou; levanta e ilumina. Desperta, desperta! Entoa um cântico. A glória do Eterno sobre ti foi revelada.”
O poeta conclama o Povo Judeu a despertar de seu exílio, que é comparado a um estado de torpor – onde ocorrem pesadelos absurdos e assustadores. Ele também volta a se dirigir a Jerusalém, exortando-a a se erguer da morosidade espiritual do exílio e exibir o brilho que outrora fizera a sua grandeza. A estrofe termina declarando que a glória de D’us retornou – como se a Redenção já houvesse ocorrido. Trata-se da paráfrase de um verso do profeta Isaías, que diz: “Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do Eterno nasce sobre ti” (Isaías, 60:1).
Lo Tevoshi
“Não te humilhes mais, não mais te envergonhes, por que te curvas? Por que te desconsolas? Em Ti os pobres de Meu povo encontrarão um refúgio e no Monte será reconstruída a Cidade.”
Lechá Dodi segue adiante com os temas de Jerusalém e da Redenção Final. O poeta assegura ao Povo Judeu que com o advento da Era Messiânica, este povo jamais voltará a conhecer a vergonha ou a desgraça. O Templo Sagrado de Jerusalém foi destruído duas vezes, e o Povo Judeu sofreu muitos exílios, perseguições e massacres, mas, após a Redenção, tais coisas jamais voltarão a ocorrer: o Terceiro Templo permanecerá para sempre, e o Povo Judeu jamais voltará a ser exilado da Terra de Israel.
Dirigindo-se a Jerusalém, o poeta assegura a Cidade Santa de que a mesma será um porto seguro para os judeus que para lá retornarem dos quatro cantos da Terra. O tema dessa estrofe ecoa a profecia de Isaías que diz: “D’us fundou Tzion (Jerusalém) e os pobres de Seu povo nela encontrarão refúgio” (Isaías, 14: 32). Segundo Rashi, o comentarista clássico da Torá, “os pobres de Seu Povo” incluem as Dez Tribos de Israel, que foram exiladas pelos assírios mais de um século antes da destruição do primeiro Templo Sagrado.
A última linha da estrofe é tirada de uma profecia que aparece no Livro de Jeremias: “Assim disse D’us, ‘Eis que restaurarei a sorte das tendas de Yaacov e me compadecerei das suas moradas; a cidade será reedificada sobre o seu monte de ruínas (o Monte do Templo) e o palácio (o Templo sagrado) será restaurado como outrora’ ” (Jeremias, 30:18).
Vehaiu
“Serão pisoteados aqueles que te pisotearam, e serão afastados aqueles que te destruíram. Teu D'us se rejubilará contigo como o noivo se alegra com sua noiva.”
Esta estrofe também se baseia em citações dos profetas Isaías e Jeremias, que, falando em nome de D’us, prometeram que na Era Messiânica, quem oprimiu e perseguiu o Povo Judeu, será tratado “medida por medida” (na medida exata).
A cidade santa de Jerusalém foi destruída inúmeras vezes, e Sua Terra Santa foi devastada, mas D’us nos assegurou, através de Seus profetas, que Jerusalém, bem como as cidades e aldeias da Terra de Israel, não apenas seriam reconstruídas, mas se tornarão mais abarrotadas do que antes de judeus que irão retornar à sua Pátria.
Sobre a analogia da estrofe do noivo e da noiva, o famoso comentarista Rabi David Kimchi (Radak) observa: Assim como o noivo e a noiva são fiéis um ao outro, excluindo-se todos os demais, assim também a Terra de Israel, quando esteve ocupada por outras nações, nunca aceitou outros habitantes, e permaneceu deserta e desolada durante milênios. Somente o Povo Judeu, seus verdadeiros habitantes, são bem vindos por ela, e a terra apenas responde aos judeus, rejubilando com eles como um noivo e a noiva que pertencem um a outro e se amam.
De fato, a história comprovou quão verdadeira é a observação de Radak: desde que os judeus foram expulsos de sua Pátria, a Terra Santa nunca se tornou um país independente, e Jerusalém nunca se tornou capital de uma nação. O solo da Terra Santa, que permaneceu deserto por séculos, somente começou a gerar frutos quando os judeus retornaram à sua antiga Pátria e lá estabeleceram um moderno estado, com Jerusalém como sua capital.
Iamin
“À direita e à esquerda, tu estenderás o teu poder, e glorificarás o Eterno através do descendente do filho de Peretz. Então alegrar-nos-emos e regozijar-nos-emos.”
Com a Redenção Messiânica advirá o cumprimento da profecia de Isaías de que Jerusalém irá sobrepujar seus adversários à esquerda e à direita. Nossos Sábios ensinam que quando o Mashiach vier, a Terra de Israel irá cobrir toda a Terra: isto significa que todo o mundo será permeado com a santidade que emana da Terra Santa.
Esta estrofe novamente se refere ao Mashiach – o profeta e agente de D’us que irá restaurar a grandeza de Jerusalém e trará a era utópica pela qual a humanidade há tanto almeja. O Mashiach é “o homem que descende de Peretz”, pois ele é o descendente do Rei David, cuja linhagem se iniciou com Peretz, o filho de Yehudá, que era um dos 12 filhos de nosso patriarca Yaacov.
A palavra “Tifrotzi” (“te disseminarás poderosamente”) tem a conotação de uma erupção. Deriva-se da mesma raiz do nome Peretz, que “irrompe para diante” do útero de sua mãe (Gênese, 38:29). O Talmud ensina que isto indica a herança ilimitada que o Povo Judeu irá receber na Era Messiânica em virtude de seu antepassado Yaacov ter personificado o atributo Divino de Tiferet – Verdade e Beleza. É a Sefirá de Tiferet que une Chessed (Bondade) à Guevurá (Severidade), referidas, respectivamente, como a direita e a esquerda.
As palavras finais da estrofe são parte de um bem conhecido versículo de Isaías (25:9) que descreve o regozijo que o Povo Judeu vivenciará quando D’us Se revelar a eles, no momento da Redenção Final: “E naquele dia, se dirá: Eis que este é o nosso D’us em quem esperávamos e Ele nos salvará: este é o Senhor, a Quem aguardávamos: exultaremos e nos alegraremos em Sua salvação”.
Os místicos judeus ensinam que o júbilo e a alegria não são meros resultados da Redenção. Pelo contrário, é o próprio júbilo o que rompe as fronteiras da limitação e do exílio, trazendo consigo a Redenção.
Iamin
“À direita e à esquerda, tu estenderás o teu poder, e glorificarás o Eterno através do descendente do filho de Peretz. Então alegrar-nos-emos e regozijar-nos-emos.”
Com a Redenção Messiânica advirá o cumprimento da profecia de Isaías de que Jerusalém irá sobrepujar seus adversários à esquerda e à direita. Nossos Sábios ensinam que quando o Mashiach vier, a Terra de Israel irá cobrir toda a Terra: isto significa que todo o mundo será permeado com a santidade que emana da Terra Santa.
Esta estrofe novamente se refere ao Mashiach – o profeta e agente de D’us que irá restaurar a grandeza de Jerusalém e trará a era utópica pela qual a humanidade há tanto almeja. O Mashiach é “o homem que descende de Peretz”, pois ele é o descendente do Rei David, cuja linhagem se iniciou com Peretz, o filho de Yehudá, que era um dos 12 filhos de nosso patriarca Yaacov.
A palavra “Tifrotzi” (“te disseminarás poderosamente”) tem a conotação de uma erupção. Deriva-se da mesma raiz do nome Peretz, que “irrompe para diante” do útero de sua mãe (Gênese, 38:29). O Talmud ensina que isto indica a herança ilimitada que o Povo Judeu irá receber na Era Messiânica em virtude de seu antepassado Yaacov ter personificado o atributo Divino de Tiferet – Verdade e Beleza. É a Sefirá de Tiferet que une Chessed (Bondade) à Guevurá (Severidade), referidas, respectivamente, como a direita e a esquerda.
As palavras finais da estrofe são parte de um bem conhecido versículo de Isaías (25:9) que descreve o regozijo que o Povo Judeu vivenciará quando D’us Se revelar a eles, no momento da Redenção Final: “E naquele dia, se dirá: Eis que este é o nosso D’us em quem esperávamos e Ele nos salvará: este é o Senhor, a Quem aguardávamos: exultaremos e nos alegraremos em Sua salvação”.
Os místicos judeus ensinam que o júbilo e a alegria não são meros resultados da Redenção. Pelo contrário, é o próprio júbilo o que rompe as fronteiras da limitação e do exílio, trazendo consigo a Redenção.
Lechá Dodi conclui pedindo para que o Shabat venha para nós em paz. De fato, paz é a essência do Shabat; a própria saudação do dia é “Shabat Shalom”. Os temas do Lechá Dodi giram em torno da paz. Nossos Sábios ensinam que a paz é um dos nomes de D’us (cuja Shechiná nós invocamos), e que o próprio Shabat traz paz – paz nos mundos superiores e paz neste nosso mundo inferior. O nome Jerusalém – a cidade que é o maior tema do Lechá Dodi – tem vários significados, um dos quais é “cidade da paz”, e a Redenção Messiânica é, antes de mais nada, uma era de paz.
Mas o Shabat não trata apenas de paz, mas também de satisfação e de prazer. Como já dissemos, o júbilo do Shabat, não apenas nos assuntos espirituais mas também materiais, é um dos maiores mandamentos da Torá. Portanto, convidamos o Shabat para nos trazer júbilo e satisfação.
Se um Shabat coincide com uma festividade, incluindo-se Chol Hamoed – os dias intermediários de Pessach e Sucot – há uma ligeira, mas significativa variação na recitação dessa estrofe: algumas congregações substituem BeSimchá, (em alegria), por Beriná (em jubilosa canção); outras agregam a palavra BeSimchá.
Ao concluir o Lechá Dodi, procedemos – agora inundados com a alma adicional do Shabat, e na Presença da Shechiná – a recitar as orações tradicionais da noite do Shabat, que forjam um elo entre o homem e seu Criador, e trazem santidade e paz a todos os mundos criados por D’us.
Bibliografia:
Rabbi Menachem Davis, Siddur – Interlinear: Shabbat 
and Festivals, Artscroll-Mesorah
Rabbi Nissan Mindel, My Prayer volume 2, Ed. Merkos L’Inyonei Chinuch
www.chabad.org, Kabbalah Online, Lecha Dodi.

Dimensões Místicas do Shabat


“O Eterno fez os céus e a terra, o mar e tudo o que há neles em seis dias e repousou no sétimo dia, e por isso o Eterno abençoou o dia de Shabat e o santificou”. (Exodus 20:8-11)
Edição 80 - Junho de 2013 Revista Morashá

A observância do Shabat é um dos fundamentos do judaísmo. A santidade do dia e os mandamentos de guardá-lo e honrá-lo são enfatizados ao longo da Torá.  O Shabat desempenha um papel central no relato da Criação do mundo e da outorga da Torá, nos Livros dos Profetas e na literatura rabínica de todas as gerações. Ademais, o Shabat é o único ritual que consta nos Dez Mandamentos e é o mandamento cuja observância é enfatizada o maior número de vezes na Torá.
Os Cabalistas ensinam que a Criação é constituída por três categorias básicas: Olam (mundo), Shaná (tempo) e Nefesh (alma). A santidade do mundo (Olam) está mais concentrada em Eretz Israel, na Terra Santa, particularmente em Jerusalém e em especial no local onde foi erguido o Templo Sagrado. No âmbito do tempo (Shaná), a santidade prevalece no Shabat e nos Yamim Tovim – as festividades judaicas.
De acordo com o judaísmo, a santidade se manifesta no tempo por meio de dias consagrados, seja na semana, no mês ou no ano. O conceito de tempo, conforme a Torá, não é uma passagem linear, e sim, uma espiral, uma hélice, que ascende da Criação. Há, portanto, uma reversão constante a um padrão fundamental, ou seja, um ciclo de tempo que se repete. O que se espera do ser humano é que tal ciclo seja virtuoso e não vicioso – que a hélice ascenda e não descenda. Exemplificando: Rosh Hashaná e Yom Kipur ocorrem todos os anos, no primeiro e no décimo dia do mês de Tishrei, respectivamente, mas espera-se que os seres humanos melhorem de um ano para o outro. 
Esse mesmo conceito de tempo se aplica à semana judaica. O Shabat, tendo sido criado e instituído por D’us, ocorre toda semana, sem exceção. Mas espera-se que um Shabat seja melhor que o anterior – que, à medida que passa o tempo, os seres humanos se aperfeiçoem e melhorem o mundo.
O ciclo semanal judaico está associado aos sete dias da Criação. Todo dia é, de certa forma, uma recapitulação do que ocorreu no Gênese. Cada dia da semana é, portanto, um modelo que manifesta a qualidade especial de uma das Sefirot emocionais, que são os canais de energia Divinos que criaram e que continuam a criar, incessantemente, toda a existência. O motivo por que o mundo foi criado em sete dias – de fato, a razão por que a semana é constituída de sete dias – é que cada um deles corresponde a uma das sete Sefirot emocionais. Domingo, o primeiro dia da semana judaica, corresponde à primeira Sefirá emocional – Chessed (Bondade, Amor, Atração). Segunda-feira, o segundo dia semanal, corresponde à segunda Sefirá emocional – Guevurá (Justiça, Disciplina, Restrição, Severidade). Terça-feira está associada à Tiferet (Beleza, Compaixão), quarta-feira à Netzach(Vitória, Ambição, Eternidade), quinta-feira à Hod (Humildade, Majestade, Glória), sexta-feira à Yessod(Fundamento, Carisma) e o Shabat, o sétimo e último dia da semana, à Malchut (Realeza, Soberania, Liderança).
Shabat representa, portanto, a manifestação pública do Rei dos reis. O Sétimo Dia é o dia da semana em que a glória de D’us se torna mais perceptível na Terra: é a culminação do processo por meio do qual o Infinito transmite Sua glória das mais altas esferas da existência à nossa.
Todo Shabat é o dia mais sagrado do ano – até mais do que os dias festivos judaicos –, pois é o dia do Rei do Universo. Já os outros dias sagrados do calendário judaico estão ligados ao Povo Judeu: celebram ocasiões especiais ou eventos milagrosos que D’us realizou em nosso benefício. O Altíssimo, de certa forma, se junta a nós para celebrar tais datas, tornando-as “festas para o Eterno” (Levítico 23:4) – dias de comunhão entre os Filhos de Israel e o Eterno. Mas o Shabat, em sua essência, não está ligado ao Povo Judeu: o Sétimo Dia precede a criação física do ser humano. O Shabat é o dia do Eterno, que Ele santificou após ter finalizado a Criação do Universo. Graças a seu grande amor por nós, D’us nos convida para compartilhar Seu dia com Ele. Esse é um dos significados do verso que utiliza linguagem metafórica e antropomórfica para descrever a Criação: “[O Shabat] é um sinal entre Mim e os Filhos de Israel para sempre, pois em seis dias fez D’us os Céus e a Terra, e no sétimo dia, cessou de sua obra e repousou” (Êxodo 31:17).
A própria palavra hebraica Shabat está associada a Shuv, “retorno”, que é a raiz de Teshuvá, que significa o retorno a D’us. Essa associação de palavras revela um dos propósitos fundamentais do Shabat: o retorno à Fonte Primária e Suprema. Pois o Shabat serve para nos lembrar, constantemente, de que foi D’us quem criou os Céus e a Terra e que, portanto, toda a existência pertence a Ele e Dele depende. Esse conceito é elucidado por Rabi Chaim ibn Attar, o Ohr HaChaim. Em seus comentários sobre o primeiro Shabat da Criação, esse talmudista e cabalista sefaradi escreve que, no Gênese, D’us criou um Universo que permaneceria em existência por apenas seis dias.
No sétimo dia da Criação, o Altíssimo criou o Shabat, que, a cada semana, provê ao Universo uma fonte de vida que lhe permite existir por mais seis dias. Portanto, o Shabat é o canal Divino utilizado para manter o Universo. Na ausência do Shabat, o mundo revertia à não existência.
Os seis dias mundanos da semana judaica – que se iniciam quando termina o Shabat, no sábado à noite, e terminam na sexta-feira, antes do pôr do sol, quando começa o Sétimo Dia – são caracterizados pela descida da plenitude Divina ao mundo. Durante esses seis dias, o homem tem como missão consertar e retificar a existência. Isso engloba não apenas a tarefa de melhorar o mundo de forma física e tangível, por meio de esforços e atos construtivos, como exercer uma profissão que contribua com a sociedade, mas também o trabalho espiritual – a busca pelo autoaperfeiçoamento. No âmbito da alma humana, cabe ao homem empregar grandes esforços para se corrigir. Essa incessante correção de falhas – o trabalho de aperfeiçoamento de caráter e comportamento – constitui um esforço criativo constante. 
A missão de corrigir tanto o mundo como a própria alma do homem – que é o microcosmo da Criação –, exige ação, ou seja, atos construtivos. O Shabat, por outro lado, fundamenta-se na passividade – na autoanulação perante a santidade. Durante a maior parte do dia sagrado, oramos e estudamos a Torá, que são mandamentos cumpridos por meio de pensamentos e palavras. Mesmo as orações de Shemonê Esreh (a Amidá) de Shabat são bastante curtas: abordam a santidade do dia e a recompensa prometida àqueles que o guardam, e não mencionam os muitos pedidos e anseios, tanto materiais quanto espirituais, que expressamos na Amidá recitada nos seis dias mundanos da semana.
O motivo disso é que a própria habilidade de receber a essência espiritual do Shabat advém da autoanulação e da disposição e habilidade de se render perante o Eterno: o ato do homem de abdicar de seu estado humano e mundano perante a Santidade Divina, por meio do qual todos os mundos, tanto o nosso mundo físico quanto os espirituais, são elevados. Por um lado, são os seis dias que precedem o Shabat que permitem ao homem aperfeiçoar o mundo e sua própria alma. Por outro, o Shabat é a fonte da plenitude para os seis dias da semana que o seguem. Se não existisse o Shabat, o mundo se esgotaria, tanto física como espiritualmente. Sem o Shabat, não haveria renovação e, portanto, o mundo estaria desprovido da energia necessária para continuar a existir.
Muitas pessoas não compreendem ou interpretam mal a importância e o propósito do Shabat. Aqueles que desconhecem as dimensões místicas do dia sagrado podem acreditar que o propósito do Shabat é o mesmo que o dos dias do fim de semana. Infelizmente, há pessoas que opinam que o Shabat é um costume arcaico, instituído em uma época em que os seres humanos eram obrigados a trabalhar sete dias por semana. Tal conceito é errôneo. O Shabat é o dia de D’us, instituído já no Sétimo Dia da Criação, milênios antes de a Torá ser outorgada no Monte Sinai. De fato, a santidade do Shabat, como a luz do sol, é uma dádiva que independe dos seres humanos. Além disso, sua santidade é comparável à de uma localização sagrada, como, por exemplo, a cidade de Jerusalém: é algo intrínseco, imutável, mas é perceptível apenas àqueles que estão abertos à espiritualidade.
É difícil, e, em certos casos, até impossível, transferir santidade, especialmente quando algo é consagrado não pelo homem, mas pelo Altíssimo. Por exemplo, nenhuma cidade, nem mesmo na Terra Santa, pode tomar o lugar de Jerusalém. Da mesma forma, nenhum edifício, independentemente de quão belo ou grandioso seja, pode substituir o Templo Sagrado. De modo análogo, nenhum dia pode substituir o Shabat. Mas apesar da qualidade de santidade ser um conceito objetivo, o grau de santidade que o ser humano pode presenciar depende de seu preparo e de sua abertura espiritual. Pode-se viver em Jerusalém e nunca desfrutar da santidade da cidade e de seus locais sagrados; pode-se acreditar que a cidade não é diferente de qualquer outra. O mesmo vale para o Shabat. Por outro lado, quanto mais intensa e sincera for a busca pela espiritualidade durante os seis dias mundanos da semana, mais fácil será sentir a santidade do Shabat. E quanto mais alto for o nível espiritual de um judeu, mais aguçada será sua percepção da elevação de todos os mundos no Sétimo Dia.
Como mencionamos anteriormente, Shabat é o dia que manifesta a Sefirá de Malchut, Realeza. Esse canal de energia Divino representa a Shechiná – a Presença Divina em nosso mundo. Além de ser a última SefiráMalchut é também um receptáculo que absorve todas as Sefirot que a precedem. Malchut é, por vários motivos, uma Sefirábastante diferente das demais: é a única Sefirá emocional “feminina”, e, como o Shabat, o dia ao qual está associada, é considerada “passiva”.
A analogia a seguir facilita a compreensão da associação entre Shabat e Malchut e do fato de tal Sefirá ser considerada “feminina” e “passiva”. É o homem que engravida a mulher: ele é, aparentemente, o agente, o criador da vida. Contudo, na realidade, é a mulher que, após um período de espera, produz uma vida, dando à luz  um ser humano. A mulher desempenha o papel principal na criação de seres humanos. Analogamente, Malchut é um receptáculo que recebe de todas as outras Sefirot, mas é ela quem direciona e transmite uma luz unida para o mundo, harmonizando todos os outros atributos Divinos que absorveu, projetando-os para baixo, para dentro da Criação. Da mesma forma que é a mulher que serve como o canal para a criação da vida, Malchut é o instrumento por meio do qual ocorre o processo contínuo de Criação do Universo. O mesmo conceito se aplica a Shabat, o dia que reflete a Sefirá de Malchut. O Sétimo Dia é o dia da passividade, mas é o meio pelo qual o mundo é recriado – o que permite que continue a existir pelos próximos seis dias.
À luz do que foi explicado acima, podemos vislumbrar o papel fundamental que o Shabat exerce em toda a Criação. Voltando à analogia: assim que a mulher engravida, há um período de gestação de aproximadamente nove meses. Da mesma forma, sabe-se que após semear, é necessário aguardar um período de tempo antes de poder colher. Se tais períodos de espera não forem respeitados, não nascerá uma criança e não haverá uma colheita. Tal lição vale para o Shabat. D’us ordenou que o homem trabalhasse durante os seis dias mundanos da semana para aperfeiçoar tanto o mundo quanto a si próprio. Contudo, o mundo, assim como uma mulher que engravidou, necessita de um período de gestação, que dura um dia por semana. Se tal período de passividade não for respeitado – se o Sétimo Dia não for observado conforme a Vontade Divina, que é transmitida para o homem por meio da Torá –, o mundo não será recriado e a humanidade não poderá semear o que plantou, espiritual ou fisicamente.
A noite do Shabat
Shabat é a manifestação da Sefirá feminina de Malchut, a Shechiná – um termo que denota a presença iminente de D’us no mundo. Não surpreende, portanto, o fato de a mulher desempenhar um papel fundamental no cumprimento da observância do dia sagrado. Um dos mais importantes mandamentos do Sétimo Dia é o acendimento das velas antes do pôr do sol, na sexta-feira. Esse mandamento deve ser cumprido pela esposa do lar e suas filhas. As velas, símbolos da santidade do dia, enfatizam a luz do Shabat e a missão singular da mulher como “representante” da Shechiná.
Na noite do Shabat, o lar de uma família judia deve se transformar em um santuário. A mesa em que é posta a chalá, os pães trançados, e as velas de Shabat, simbolizam dois dos principais elementos do Templo Sagrado: o Lechem HaPanim – os doze pães que eram ingeridos pelos Cohanim, os sacerdotes, todo Shabat, e que representavam o sustento do homem – e a Menorá – o candelabro de sete braços que simbolizava a Sabedoria Divina, a Torá.
Um dos principais rituais do Shabat é o Kidush, recitado sobre um copo de vinho. Nossos Sábios ensinam que o Kidush de sexta-feira à noite é o próprio cumprimento do quarto dos Dez Mandamentos: “Lembre-se do dia do Shabat para santificá-lo”. O Kidush, que literalmente significa “separação” ou “santificação”, enfatiza a diferença entre os seis dias mundanos da semana e o sétimo, sagrado. A cerimônia do Kidush, além de ser, por si só, o cumprimento de uma Vontade Divina, permite que a alma judia adentre um estado de tranquilidade e receptividade espiritual.
Kidush é feito sobre um copo de vinho (sendo este, evidentemente, Casher), pois há um conceito no judaísmo de que ideias e princípios devem se traduzir em atos. Portanto, a santificação do Shabat, o Kidush, ocorre não apenas por meio da recitação de trechos sagrados, mas também pela ingestão de vinho. Além disso, o vinho do Kidushlembra as libações de vinho que eram ofertadas no Templo Sagrado.
O copo do Kidush simboliza a Shechiná – o receptáculo por meio do qual, e no qual, é transmitida a bênção Divina. Dentro do copo é despejado o vinho, que evoca a fartura, a plenitude e o poder que advêm de fontes espirituais, sobrenaturais. O vinho tinto expressa, de certa forma, um aspecto da segunda Sefirá emocional, Guevurá – Poder, Justiça e Severidade. Portanto, há um costume cabalístico de despejar um pouco de água sobre o vinho do copo do Kidush. De acordo com a Cabalá, a água representa a primeira Sefirá emocional, Chessed – Bondade e Amor. Uma pequena quantidade de água é despejada sobre o vinho para amenizar a Guevurá – para criar harmonia entre as duas primeiras Sefirot emocionais.
Rabi Yehudá Lowe, o Maharal de Praga, um dos maiores cabalistas e Sábios de todos os tempos, conhecido por ter criado o Golem, explica um motivo por que se utiliza o vinho no Kidush. O Maharal ensina que essa bebida é singular pelo fato de ser não meramente um produto da uva, mas sua própria essência. Em seu estado natural, a uva é uma fruta como qualquer outra. Antes de ingeri-la, recitamos a bênção Bore Peri Ha’Etz, que vale para qualquer fruta que cresça em uma árvore. Contudo, a uva oculta dentro de si suco que pode se transformar em vinho, um produto que, na linguagem antropomórfica do Talmud, “traz alegria a D’us e ao homem”. Isso significa que a essência e o potencial da uva são muito maiores do que ela própria. A bênção feita sobre o vinho, Bore Peri Ha’Guefen, é singular, pois a essência da uva supera seu estado natural.
O mesmo é verdadeiro, explica o Maharal, sobre o homem. Como a uva, o corpo do homem oculta uma alma, que é sua essência. O ser humano pode ignorá-la e até feri-la. Mas também é dada ao homem a opção de elevá-la e purificá-la a tal ponto que mesmo o corpo que a encobre seja santificado, permitindo que o ser humano viva neste mundo material e, simultaneamente, acima dele. Além disso, por meio do Shabat, o homem pode se tornar a própria alma do mundo, dando vida à existência, para que ela possa continuar a existir pelos seis dias que seguem o Sétimo Dia. Por esse motivo, explica o Maharal, a santidade do Shabat é proclamada por meio do vinho.
Cabe lembrar que, durante a recitação do Kidush, todos os presentes permanecem de pé, pois sua recitação (em particular, a do trecho de Vayechulu) serve de testemunho de que D’us criou os Céus e a Terra, e, de acordo com a Lei Judaica, toda pessoa deve permanecer de pé enquanto presta testemunho.
O dia do Shabat
De acordo com o judaísmo, a escuridão da noite simboliza a ocultação. A noite de Shabat, horas de escuridão, é comparada a um dos símbolos da Shechiná – a lua, que não possui luz própria. Já que a noite de Shabat, como a lua, não possui sua própria luz, ela recebe e é preenchida pela luz do dia do Shabat, o dia seguinte. Mas já que a iluminação é sentida de forma mais contundente do que a própria fonte de luz – à noite, por exemplo, percebemos a iluminação advinda da lua e não a fonte de luz que ela reflete – é comum sentir a santidade do Shabat de forma mais intensa na sexta-feira à noite do que no sábado. Esse fenômeno também se deve ao elemento de novidade – a transição dos seis dias mundanos da semana para o Shabat.
O dia de Shabat, em contraste com a noite anterior, representa não a iluminação, mas a própria luz do Sétimo Dia. Em tal dia, encontramo-nos na presença do próprio Altíssimo, acima e à parte de todos os mundos, em um nível denominado pela linguagem da Cabalá de Atiká Kadishá – “o Sagrado Ancião”. Esse termo se refere a Keter(Coroa) – uma Sefirá tão elevada que nem sequer é considerada uma das 10 SefirotKeter é a fonte de todo prazer e desejo. Esse nível se manifesta dentro da alma por meio da ligação com o prazer intrínseco do próprio dia do Shabat. Portanto, a refeição do dia de Shabat, que é realizada após as rezas matinais na sinagoga, é denominada de a refeição de Atiká Kadishá, pois nela, o homem deve desfrutar do nível do Eterno – a Fonte de todos os prazeres.
Um Kidush também é recitado antes da refeição do dia de Shabat. Esse Kidush é chamado de Kidush Rabá, o “Grande Kidush”, mas, na realidade, o texto recitado é curto.
A tarde do Shabat
Seudat Shlishit, a terceira refeição do Shabat, ocorre logo após a oração da tarde, Minchá. Essa refeição, como a do dia do Shabat, é conduzida antes do pôr do sol. Ensina a Cabalá que durante essas horas, as glórias de todo o Shabat se concentram.
Diz-se sobre tal refeição: “Eu os sustentarei com a herança de Jacob seu pai” (Isaías 58:14), que se refere a uma herança ilimitada, como consta na Torá sobre nosso Patriarca: “Você se espalhará para o oeste e o leste, o norte e o sul” (Gênese 28:14). A partir desse nível de herança ilimitada, o Shabat ilumina os seis dias mundanos que o seguem.
A luz e a revelação do Shabat atingem seu ápice no crepúsculo. Nos dias da semana, a tarde é um período em que a benevolência Divina é gradualmente sobreposta pela severidade Divina. O período da tarde dos dias da semana é um momento de vitalidade minguante, associada à Sefirá de Guevurá. No Shabat, contudo, ocorre exatamente o oposto: o horário da tarde do Sétimo Dia é considerado o ponto máximo do dia sagrado – o momento da “graça Divina” – de iluminação suprema. Não é um momento de severidade Divina, mas, muito pelo contrário, “um descanso de paz, tranquilidade, serenidade e segurança”, como recitamos na oração da Amidá de Minchá do Shabat. Desde a época talmúdica, as pessoas se congregavam na sinagoga antes de Minchá para estudar a Torá. Durante a terceira refeição do Shabat, é costume se aprofundar em assuntos relacionados à Torá e à fé.
A Despedida do Shabat
Quando termina o Shabat, é realizada a cerimônia da Havdalá, que literalmente significa “separação”. De certa forma, corresponde ao Kidush de sexta-feira à noite.
Havdalá serve para distinguir o Sétimo Dia sagrado dos demais, mundanos, que estão prestes a se iniciar. Por meio de tal ritual religioso, homenageamos o Shabat ao acompanhá-lo em sua partida, da mesma forma que fomos recebê-lo no dia anterior, por meio das orações na sinagoga e do Kidush. É digno de nota o fato de darmos as boas-vindas ao Shabat e de nos despedimos dele por meio da luz – as velas de Shabat e a tocha da Havdalá, respectivamente. Assim, cumprimos o mandamento de: “Glorifique o Eterno com luz” (Isaías 24:15).
A recitação da Havdalá e os objetos utilizados para cumprir esse mandamento – o vinho, a vela trançada e as especiarias – auxiliam a alma a fazer a transição do Shabat para os dias da semana. O propósito dessa cerimônia é trazer a luz do Shabat para dentro do mundano, para que os dias da semana não sejam inteiramente cinza, desprovidos de cor, e sim, iluminados pela luz do Sétimo Dia. Por esse motivo, a Havdalá costuma ser seguida por orações e apelos ao Divino para que a semana que se iniciou caminhe bem.
Desde a época talmúdica, era comum fazer uma refeição especial após o término do Shabat – a “quarta refeição do Shabat”, denominada em muitas fontes judaicas de Seudat Melaveh Malka – a refeição para escoltar a Rainha. (O Shabat, que reflete Malchut, a Sefirá “feminina” de Realeza, é frequentemente chamada de “Rainha”). Essa refeição é também conhecida como a “refeição do Rei David”, pois complementa as três refeições de Shabat, que representam os três Patriarcas, Avraham, Isaac e Jacob. A Cabalá ensina que a Carruagem Divina contém “quatro rodas” – os três Patriarcas e o Rei David. Há, portanto, uma quarta refeição, associada à quarta roda da Carruagem Celestial. Como a Havdalá, a Seudat Melaveh Malka é feita em homenagem ao Shabat – uma despedida com celebração e alegria. Da mesma forma que se recebe o Shabat com muita alegria e com uma refeição – o Kidush e o jantar de sexta-feira à noite – o Povo Judeu se despede do dia sagrado com uma refeição festiva – a Refeição da Escolta da Rainha.
A Lei Judaica determina que a Seudat Melaveh Malka deva ser preparada da mesma forma pela qual foram preparadas as outras refeições de Shabat: a mesa deve ser posta, mesmo que não se coma muito. É costume utilizar dois pães para essa refeição, como nas outras três refeições de Shabat. Também é costume continuar vestindo os trajes de Shabat durante Seudat Melaveh Malka.
Os Sábios enfatizaram a  importância dessa refeição e os benefícios espirituais recebidos por aqueles que a conduzem meticulosamente. Os místicos ensinam que o alimento ingerido durante a Seudat Melaveh Malkasustenta um certo osso humano chamado de luz. Não se sabe exatamente onde fica localizado tal osso. O que é significativo é que a luz tem a qualidade singular de não se decompor após a pessoa falecer. Ensina-se que quando houver a Ressurreição dos Mortos, na Era Messiânica, D’us utilizará tal osso para reconstruir os corpos daqueles que faleceram.
Shabat e o Sétimo Milênio
O Talmud ensina que os seis dias da Criação correspondem aos seis mil anos de história humana. O sétimo dia, Shabat, corresponde ao sétimo milênio, o “dia em que todos os dias serão Shabat”.
Em seu comentário sobre a Torá, Nachmanides cita o verso dos Salmos que afirma: “Mil anos em Seus olhos são como um dia que se passou” (Salmo 90:4), e explica como cada um dos seis dias da Criação está associado a um dos milênios da história humana.
Shabat, o dia sagrado de descanso e deleite, é o sétimo e último dia da semana. Corresponde ao sétimo milênio, a Era Messiânica – a era em que todo o mundo será permeado pela Shechiná – a Presença Divina. Nesses mil anos, a santidade, a bondade e o deleite preencherão o mundo e a humanidade nunca mais conhecerá o sofrimento e a morte.
A Torá nos ordena trabalhar durante os seis dias da semana, para que possamos nos aperfeiçoar e melhorar o mundo que nos foi confiado por Aquele que o criou. O sétimo dia, Shabat, é um alívio garantido que ocorre ao final da semana. O mesmo vale para a história da humanidade. Por quase seis mil anos, a humanidade trabalhou para melhorar o mundo e tornar a vida nele melhor para seus habitantes. Com o advento do sétimo milênio, os seres humanos, judeus e não judeus, poderão desfrutar dos frutos de seu trabalho.
De fato, a história humana tem início e destino – um destino feliz para todas as pessoas de bem. Por meio do Shabat, foi dado ao Povo Judeu um vislumbre do Mundo Vindouro – a utopia que muito em breve chegará. Toda semana, durante um dia, somos lembrados do propósito máximo e do destino da Criação – a era em que o mundo todo será aperfeiçoado e se deleitará com a Luz do Infinito.
Bibliografia: 
Rabi Steinsaltz, Adin (Even Israel), The Miracle of the Seventh Day: A Guide to the Spiritual Meaning, Significance and Weekly Practice of the Jewish Sabbath, Jossey Bass
Rabi Steinsaltz, Adin (Even Israel), The Mystical Meaning of Shabbat, Merkos L’Inyonei Chinuch
Rabi Finkelman, Shimon The Sabbath – Its Essence and Significance, Artscroll Mesorah Series

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Falecimento

            

Cadish

Antes da alma conhecer por experiência própria as virtudes de estar num corpo, ela nasce contra a sua vontade e não quer entrar nele. Mas, depois de viver e conhecer o significado de ser capaz de praticar uma mitsvá, ela deixa agora o corpo contra a sua vontade. Por isso a Mishná diz: "Você nasce contra a sua vontade e depois morre contra a sua vontade". Recitamos o Cadish para ajudar a minimizar o trauma da alma de se separar do corpo, pois isto é muito doloroso para ela. O Cadish facilita o caminho é recitado durante onze meses, ainda que leve doze para este trauma se resolver. Como não queremos indicar, em respeito à alma, que ela, particularmente, precisou de doze meses completos para se reajustar ao Céu recitamos o Cadish apenas por onze meses.

O que é o Cadish? O Cadish é um hino de louvor a D’us. Por ser tradicionalmente recitado nos enterros e em honra a entes falecidos tornou-se popularmente identificado como uma oração pelos mortos. Entretanto, o Cadish não faz nenhuma referência à morte ou ao luto. Embora os cabalistas do século XVI atribuíssem um caráter místico ao Cadish, alegando que toda vez que era recitado a alma do falecido se elevava a um nível espiritual mais alto o valor intrínseco do Cadish se relaciona à pessoa que o recita. É uma expressão pública de fé em D’us por parte do enlutado, uma aceitação da Sua vontade mesmo em face da dor e da tristeza, uma submissão aos desígnios divinos diante da incapacidade de racionalizar uma tragédia pessoal.

Cadish dos Enlutados
Leis e costumes

• O Cadish é recitado por onze meses menos um dia a partir do dia do falecimento.

• É importante lembrar que o Cadish só tem valor quando há minyan, i. e., num grupo de dez judeus, e estes respondem Amên, o que traz méritos para a alma.

• O Cadish é dito em pé, com os pés juntos.

• Antes de recitar o último verso, “Ossê Shalom Bimromav...”, dá-se três passos para trás.

• Em todas as orações em que o Cadish é dito cinco velas devem ser acesas na frente do ledor.

• Os onze meses do Cadish terminam na oração de Minchá do último dia do décimo-primeiro mês.

• O Cadish também é dito no dia do yahrzeit da data hebraica, ou seja, durante a oração de Arvit na noite que antecede o aniversário de falecimento e nas orações de Shacharit e Minchá deste dia.

• Pais que não têm filhos homens devem assegurar que o Cadish será dito por parente, amigo ou integrante de minyan na sinagoga.

• É costume os enlutados praticarem boas ações em nome do falecido, principalmente doar tsedacá em seu nome.

Se não há filhos para recitar o Cadish, a família deve pagar a alguém para recitar o Cadish durante este período.

Yitgadal veyitcadash shemê, bealmá di verá chir‘utê. Veyamlich malchutê,veyatsmach purcanê, vicarev Meshichê. Bechayechon uvyomechon, uvchayê dechol Bet Yisrael, baagalá, uvizman cariv, ve’imru amen. Yehê shemê rabá mevarach lealam ul’almê almayá. Yitbarech, veyishtabach, veyitpaer, veyitromam, veyitnassê, veyit’hadar, veyit‘alê, veyit’halal shemê decudshá berich Hu. Leelá min col birchatá veshiratá, tushbechatá venechematá, daamiran bealmá, ve‘imru amen.

Al Yisrael, veal rabanan, veal talmidehon, veal col talmidê talmidehon, veal col man deaskin beoraytá, di veatrá haden, vedi vechol atar vaatar; yehê lehon ulchon shelamá rabá, chiná, vechisdá, verachamin, vechayin arichin, umzoná revichá, ufurcaná min cadam Avuhon devishmayá, ve‘imru amen

Yehê shelamá rabá min shemayá, vechayim tovim, alênu veal col Yisrael, ve‘imru amen. Ossê shalom (nos dez dias entre Rosh Hashaná e yom kipur,substitui-se por: hashalom) bimromav, hu yaassê shalom alênu, veal col Yisrael; ve‘imru amen.

Tradução:
Que seja exaltado e santificado Seu grande nome (congregação: Amém), no mundo que Ele criou segundo Sua vontade. Que Ele estabeleça Seu Reino, faça vir Sua redenção e aproxime a vinda de Seu Mashiach (congregação: Amém) em vossa vida e em vossos dias e na vida de toda a Casa de Israel, pronta e brevemente, e dizei amém. (Congregação: Amém)

Que Seu grande nome seja bendito eternamente e por todo o sempre; que seja bendito.)
Que Seu grande nome seja bendito eternamente e por todo o sempre. Que seja bendito, louvado, glorificado, exaltado, engrandecido, honrado, elevado e excelentemente adorado o nome do Santo, bendito seja Ele (congregação: Amém), acima de todas as bênçãos, hinos, louvores e consolos que possam ser proferidos no mundo, e dizei amém (congregação: Amém).

Que haja paz abundante emanada dos Céus, e bênção de vida sobre nós e sobre todo [o povo de] Israel; e dizei amém (congregação: Amém).

Aquele que estabelece (nos dez dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, acrescenta-se: “a”) paz em Suas Alturas, possa Ele estabelecer paz para nós e para todo Israel; e dizei amém (congregação: Amém).

Obs: Ao terminar os trechos “Rabi Yishmael” (no início da Prece Matinal) e “En k’E-lo-hê-nu” (no final da Prece Matinal) e também após um estudo de Torá na presença de dez homens (minyan), insere-se o seguinte parágrafo antes de “Yehê shelamá rabá” (“Que haja paz abundante”)

Sobre Israel, sobre nossos mestres e sobre seus discípulos e sobre todos os discípulos de seus discípulos e sobre todos os dedicados ao estudo de Torá, quer aqui, quer em qualquer lugar; sobre eles e sobre vós, se derrame paz abundante, graça, benevolência, misericórdia, vida prolongada, sustento farto e salvação, proporcionados por Seu Pai nos Céus, e dizei amém (congregação:Amém).

Com este acréscimo o Cadish é denominado “Cadish de’Rabanan”.

Curiosidades

Por que o Cadish é recitado em aramaico? Nos tempos talmúdicos, o hebraico era o idioma dos eruditos, a língua do estudo e da oração, porém o vernáculo era o aramaico.
Os rabinos achavam essencial que qualquer leigo pudesse captar plenamente o significado do Cadish. Decretaram que esta oração fosse sempre proferida na língua em que foi composta: em aramaico, a linguagem do povo .

Por que existem varias formas de Cadish? O Cadish era originalmente recitado no final de um sermão ou de uma sessão de estudos, e continha um parágrafo a mais que constituía uma prece pelo bem estar de todos que se dedicam ao estudo da Torá. A primeira referência ao Cadish como uma oração dos enlutados se encontra no livro Or Zarua, escrito no século XIII pelo Rabino Isaac Ben Moses de Viena.
Além destas duas formas - o Cadish dos rabinos (Cadish de'Rabanan) e o dos enlutados (Cadish Yatom) - duas outras versões são usadas em nossas sinagogas hoje em dia: uma forma abreviada recitada no final de cada parte do serviço, o meio cadish (Chatzi Cadish) e o "Grande Cadish" (Cadish Shalem), recitado no término do serviço religioso.

Por que os filhos devem recitar o Cadish diariamente durante onze meses após a morte do pai ou da mãe? Originalmente, os rabinos estipularam que o Cadish deveria ser recitado durante um ano, até terminar o prazo de luto no qual os filhos devem se abster de participar de reuniões festivas, etc. Uma pessoa, após a morte, deve expiar os pecados cometidos na Terra, antes que sua alma entre no Gan Eden. Quanto maior o número de pecados, maior o tempo de expiação, sendo que o prazo máximo era de doze meses.
Baseado nesta crença, o Rabino Isserles de Cracóvia decretou no século XVI que o Cadish deveria ser recitado somente durante onze meses, pois se fosse mantido o período total de um ano, poderia parecer que o falecido tinha sido um pecador do mais alto grau .


O que é o Gan Éden (Paraíso)? O local onde repousam as almas, o mundo espiritual. A alma volta ao mundo das almas e se adapta a ele como se nunca houvesse saído. É uma alma entre almas sem precisar de reintegração. Isto é o Paraíso. O período de reintegração tem, no máximo, doze meses. E para ajudar na adaptação, recitamos o Cadish. Damos à alma o crédito por todas as mitsvot que foram realizadas devido à sua influência sobre nós.Nos Provérbios, o mais sábio dos homens diz: "Eu elogio os mortos que já morreram mais do que os vivos." Uma das razões para dizer isto é porque o impacto, a impressão e a influência extraordinários que uma pessoa tem depois de sua morte é muito maior e mais forte que quando viva.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Um Mar de Pessoas

Comentários sobre a festa de Pessach

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As três festas de peregrinação (Shloshet Haregalim)

A festa de Pessach é uma das três festas chamadas de “festas de peregrinação”, juntamente com Shavuot e Sucot. O significado desta expressão é que, nestas três datas, o povo de Israel deveria deixar suas casas e campos para chegar a Jerusalém e participar das festividades do Templo.
Para poder chegar a tempo, tinham que deixar suas casas uma ou duas semanas antes do início da festa, em grandes caravanas de peregrinos, juntamente com toda a família e, alguns animais para os sacrifícios do Templo.
Se fosse em Pessach, deveriam pensar não somente em um cordeiro para a noite do Seder, mas também em algum outro animal para o abate de “Chagiga” – isto é, o sacrifício de ‘festa’ sacrificado pela manhã e que podia ser consumido nos dois primeiros dias e durante a primeira noite. Certamente trariam muitos outros animais para comer durante a semana que durava Pessach ou Sucot, uma vez que neste feriado, a alegria é ‘obrigatória’ e o dito talmúdico diz que “não há alegria sem carne (de gado) e vinho”.
Nem todos possuíam animais suficientes para trazer ou mesmo como trazê-los ao Templo, então vinham os pastores a Jerusalém, com grandes rebanhos de gado, maiores e menores, proporcionando aos peregrinos, mais esta opção.
Um mar de pessoas
Definitivamente um dos primeiros efeitos destas peregrinações é o contato direto, durante todo o período da festa, com milhares de outras pessoas, até então desconhecidas e das quais, muito provavelmente, nunca os verá novamente. Um mar de pessoas subindo as escadas em direção ao Templo, desde a cidade de David, no período do Primeiro Templo, ou a partir da colina ocidental, durante o Segundo Templo. Todos já se haviam banhado nas vários ‘mikva’ot’ que haviam nas redondezas, antes de poderem entrar nos recintos sagrados do Monte do Templo.
Esse contato, esse sentir-se parte de um enorme grupo de pessoas com o mesmo objetivo, no mesmo sentido, fora de todos os efeitos espirituais que ocorrem graças aos sacrifícios e à presença no templo, muda completamente a perspectiva das pessoas que participam do evento.
Em um estudo publicado na National Geographic, em Israel, a Sra. Laura Spini explica sobre a festa hindu que acontece na cidade de Allahabad, a cada primavera. Chegam dezenas de milhões de pessoas a localidade para, por uma semana, banhar-se no rio Ganges, transformando o evento na, provavelmente, maior festa religiosa do mundo. Uma equipe de psicólogos liderados pelo Dr. Steven Fitting, da Universidade britânica de St. Andrews, buscaram examinar os efeitos de viver em duras condições de peregrinação nos participantes do chamado, Maha Kumbh Mela.
Identidade Coletiva
Se poderia pensar que o indivíduo perde a sua personalidade particular neste momento, podendo levar à perder sua capacidade de pensar com sabedoria e agir com moralidade, características estas, tão básicas, que nos tornam humanos. Mas o estudo mostra que esses encontros são importantes e até mesmo, essenciais para a sociedade. Realmente nos ajudam a consolidar um sentimento de identidade coletiva, ajudando a criar novas relações com os outros e inclusive, melhorar a nossa sensação física.
É verdade que existe diferença entre a multidão física e a psicológica. Ou seja, não é o mesmo quando muitas pessoas se juntam no metro ou até mesmo em um festival de musica, de quando têm um objetivo em comum a realizar. Neste último caso, aprendemos a usar a palavra “nós” em vez da palavra “eu”, mas, sem perder a identidade particular.
Ao participar de um grupo grande, a pessoa pode mudar sua maneira de ver o mundo, diz o psicólogo Mark Levine, colega do Dr. Racor. Reações à superlotação, música alta e local de acampamento, quando realizadas em um mesmo objetivo, principalmente quando se trata de um grande evento religioso, se distinguem das que, no passado, poderiam ser consideradas “normais”.
Contato com a Shechiná
É claro que esta é apenas uma das grandes vantagens da peregrinação ao Templo de Jerusalém, já que o principal é o contato direto com a Presença Divina, muito evidente no Templo. Este contato que gerava o bom humor necessário para que, as pessoas muito qualificadas, chegassem ao nível da profecia.
Mas mesmo quando não se alcançava a profecia, se podia chegar a um estado de espírito próximo da santidade que permitia uma melhor conexão com o Criador, através das orações ou da melhor compreensão das mensagens da Torá e de outros livros do ‘Tanakh’.
O simples contato físico com pessoas santas que frequentavam a peregrinação e se misturavam com o resto dos fiéis, já causava uma grande impressão na alma e condicionava o comportamento de todos os presentes que voltavam, em seguida, fortificados à rotina em suas respectivas casas.
Por tudo isso, esperamos impacientes o momento em que possamos retomar a verdadeira peregrinação. É verdade que, hoje, grandes multidões chegam ao ‘Kotel’, o muro de contenção do Monte do Templo, o lugar mais próximo do Santuário que se pode chegar. Mas, ainda, estamos muito longe do que foi nos dias do Templo, da peregrinação com um verdadeiro contato com a ‘Shechiná’.
“Que o Templo seja reconstruído em breve, nos nossos dias… “

Fonte: Shavei Israel 

Cremação

     O que a Torá diz...

  

            
Se alguém de nossa família deixa como pedido antes de sua morte para que seu corpo seja cremado, como devemos proceder? Cumprir sua vontade? O que o judaísmo fala sobre isto?          
                         
           
RESPOSTA:

A cremação é proibida no Judaísmo porque a morte envolve mais que apenas um corpo. Trata-se da alma.

Devido ao custo elevado do enterro — caixão, matseivá (lápide), terreno no cemitério, ou movidos simplesmente por um desejo pessoal — muitos judeus estão optando pela cremação. Qual a posição judaica?

O Judaísmo permite apenas o enterro. A fonte para isso é a Torá, onde D’us diz a Adam: "Retornarás ao solo, pois foi do solo que foste feito" (Bereshit 3:19).

O Judaísmo não somente proíbe expressamente a cremação, como insiste num enterro muito simples diretamente no chão.

Com a morte, a alma passa por uma dolorosa separação do corpo, que até então a tinha abrigado. Este processo de separação ocorre conforme vai ocorrendo a decomposição do corpo. Quando o corpo é enterrado, desintegra-se lentamente, fornecendo desta forma um conforto à alma que está se liberando do corpo. Esta decomposição é fundamental, e é por isso que a Lei Judaica proíbe embalsamar ou enterrar em um mausoléu, o que na verdade retardaria este processo fundamental de decomposição.

Além disso, os judeus são sepultados em um caixão de madeira, que se deteriora mais rapidamente. Da mesma forma, a Lei Judaica decreta que o sepultamento seja feito o mais rápido possível depois da morte. (Em Israel, os funerais freqüentemente ocorrem no mesmo dia da morte). Tudo isso é feito para o benefício da alma.

Uma razão pela qual o Judaísmo proíbe a cremação é que a alma sofreria um grande choque, devido à súbita separação artificial do corpo. Como diz o Talmud: "O enterro não é para o bem dos vivos, mas sim para os mortos" (Sanhedrin 47a).

Ressurreição

A tradição judaica registra que com o enterro, um único osso na parte posterior do pescoço nunca se decompõe. É a partir deste osso — chamado osso luz — que o corpo humano será reconstruído na futura Era messiânica, quando todos os mortos serão ressuscitados. Com a cremação, aquele osso pode ser destruído, e o processo de ressurreição prejudicado.

Na verdade, alguém que escolhe a cremação age como se não acreditasse na ressurreição. A ressurreição é uma crença fundamental do Judaísmo, como foi expresso na obra clássica de Maimônides em seus Treze Princípios da Fé:

"Creio com plena fé na Ressurreição dos Mortos, que ocorrerá quando for a vontade do Criador."

Fontes:
Beit Yitschak, Yoreh Deah II, 195 (baseado no Talmud — Temurah 34a).
Achiezer III, 72:4 (baseado em devarim 21:23, e Maimônides — Leis do Sanhedrin 15:8)
http://www.chabad.org.br/interativo/faq/cremacao.html